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Polícia aponta quase o dobro de eutanásias de cães e gatos em Canoas na gestão de ex-secretária

A Polícia Civil identificou indícios de que o número de cães e gatos submetidos à eutanásia em Canoas foi praticamente o dobro do registrado oficialmente pela Secretaria de Bem-Estar Animal entre janeiro e julho deste ano. O caso envolve a ex-secretária Paula Lopes, que já é investigada por maus-tratos e estelionato.

Segundo a investigação, 478 animais foram sacrificados no período, mas os registros oficiais da pasta apontavam apenas 239 mortes. Paula foi exonerada do cargo em agosto.

Como a fraude foi descoberta

As informações vieram à tona após a polícia encontrar um caderno paralelo mantido por uma servidora, no qual constavam os procedimentos de forma extraoficial. Depoimentos de funcionários também apontam que parte dos óbitos foi registrada com outras causas, com o objetivo de não levantar suspeitas.

De acordo com a delegada Luciane Bertoletti, havia pressão para sacrificar animais que poderiam ser tratados. “A justificativa apresentada era a abertura de espaço para novos atendimentos, mas também havia forte relação com os custos. Um gato com esporotricose exige meses de tratamento, com gasto mensal de cerca de R$ 300. Já a eutanásia custa de R$ 50 a R$ 100. Isso certamente pesava na decisão”, explicou.

Depoimentos revelam irregularidades

Veterinários relataram que eram instruídos a deixar em branco a data de óbito dos animais, para simular que haviam recebido tratamento antes da morte. Também apontaram que havia pressão para realizar eutanásias em casos de FIV (HIV felina), FELV (leucemia felina) e cinomose, doenças que poderiam ter acompanhamento clínico.

“Era no mínimo uma eutanásia por dia. Muitos desses animais poderiam viver anos se tratados”, disse uma profissional ouvida pela polícia.

Outro relato destacou que foi sugerida a amputação de membros de um cão com múltiplas fraturas, em vez de cirurgia ortopédica. “Era uma economia porca, porque tiraria a qualidade de vida do animal”, afirmou.

Há ainda relatos de tutores que foram orientados a autorizar a eutanásia por falta de chance de recuperação. Alguns se recusaram, buscaram atendimento em clínicas particulares e relataram que os animais seguem vivos.

Defesa e investigação

Em depoimento, Paula Lopes negou as acusações. Sobre os R$ 77 mil em espécie encontrados em sua residência, alegou que o dinheiro seria fruto da venda de um apartamento. A polícia apura a origem dos valores.

A Prefeitura de Canoas informou que abriu uma sindicância interna e que a secretaria segue em funcionamento normalmente.

Posição do CRMV-RS

O Conselho Regional de Medicina Veterinária do RS (CRMV-RS) afirmou acompanhar o caso, lembrando que a eutanásia só é permitida em situações específicas previstas em lei e sempre com registro em prontuário assinado por veterinário responsável. O órgão reforçou que cada caso deve ser analisado com rigor técnico e ético e que não cabe julgamento prévio antes da apuração completa das autoridades.

O CRMV-RS também destacou que possui um canal online para denúncias ético-profissionais contra veterinários em seu site oficial.

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