FORÇA DO VALE 40 ANOS
DestaquesPolítica

Rodrigo Maroni e a abolição dos rodeios no RS: “Eu estou do lado daqueles que ninguém enxergava”

O deputado que é ativista da causa animal, admite a montaria apenas para o lazer, e desafia a provarem que os animais não são maltratados nos rodeios.

Por conta do debate sobre a proibição de animais nos rodeios no Rio Grande do Sul, o deputado estadual Rodrigo Maroni (PSDB), visitou a redação do Força do Vale e falou sobre o Projeto de Lei que apresentou Assembleia Legislativa, gerando descontentamento na comunidade tradicionalista.
Em Encantado, uma moção de repúdio ao PL de Maroni foi protocolada pelo vereador Cris Costa e aprovada na casa legislativa, por oito votos a favor e uma abstenção. “Esse projeto de lei é um absurdo. Sou contra rinha de galo, de cachorro, sou contra cavalo puxando carroça, mas sou a favor dos rodeios”, disparou Cris Costa.

“Moção de repúdio é uma forma de ganhar votos”

Já Maroni, que é companheiro de partido, rebateu: “Convido este vereador Cris a ir comigo em um rodeio. Caso confirme maus-tratos de animais ele pode ser testemunha do crime. Se topar só marcar e vamos! Eu estarei sempre do lado dos animais e sim, tanto carroças como rodeios são maus-tratos”, completou o deputado.
Rodrigo Maroni,  que também é psicanalista e professor de história, esteve “na boca do povo” encantadense nas últimas semanas. O deputado estadual justifica que o gado e os cavalos sofrem maus tratos nos rodeios, por mais que tentem argumentar o contrário e desafia a provarem o contrário.

“Minha causa é solitária e incompreendida.”

O deputado introduz a retórica aludindo às origens do legado: os rodeios não fazem parte da cultura gaúcha, “foram importados da América Central”. Ele alega que os tiros de laço começaram nos presídios mexicanos, no século passado, quando os presidiários utilizavam da doma de animais e do laço para o entretenimento no cárcere.
Rodrigo Maroni (PSDB)
O deputado Maroni reforça que não é contra a tradição gaúcha, mas sim contra os maus-tratos no campo. Ele reitera que não há a presença de veterinários nas arenas de competição e que os animais envolvidos são expostos a condições extremas durante estes eventos. Afirma que, dentre as negligências com os animais estão as fraturas, a eutanásia, a dor, o treinamento exaustivo, o transporte precário, o medo durante os eventos, a insegurança por estar em meio a um público, a música alta, bombas de artifício e os açoites dos peões. Além do mais, ele argumenta que nenhum animal escolhe ir para este tipo de torneio e, que se qualquer cavalo ou
boi fosse tratado em via pública como é tratado nestes ambientes, o responsável pelos atos seria preso.

Para o deputado sua causa é solitária e incompreendida, e para isso, ele procura abordagens incisivas para chamar a atenção: “Eu busco o debate, estou do lado daqueles que ninguém enxergava. Lá na frente, talvez daqui alguns séculos, quando o ser humano evoluir, vão entender a minha causa” explica o tucano. “Minha intenção é trazer à tona, fazer as pessoas enxergarem a precariedade destes eventos campeiros. Em meio a bêbados e música alta, qualquer animal se assusta”, completa.

Contraponto tradicionalista

O Movimento Tradicionalista gaúcho (MTG) se manifestou em nota, em aversão ao Projeto de Lei: “Em seus 56 anos de existência, o MTG e suas entidades filiadas promoveram incontáveis Rodeios, Torneios e Festas
Campeiras, todos baseados na Origem da Cultura do Tiro de Laço e nos costumes do Homem do Campo, prezando sempre pelo bem-estar e pelo respeito aos animais, tendo o cavalo como seu trono e o bovino como parte integrante da cultura, do lazer e da economia do nosso estado. Desta forma, o Movimento Tradicionalista Gaúcho do Rio Grande do Sul, neste ato, vem a público repudiar o Projeto de Lei de autoria do Deputado Rodrigo Maroni que objetiva proibir, no âmbito do estado do Rio Grande do Sul, a realização de rodeios [..]”.

Rogério Bastos é historiador, presidente da Comissão Gaúcha de Folclore e assessor de comunicação do MTG e  explica a ligação do cavalo com o gaúcho justificando a correlação da tradição gaúcha com os rodeios:

Rogério Bastos, historiador, presidente da Comissão Gaúcha de Folclore e assessor de comunicação do MTG

“Quando em 1626 os Jesuitas fundaram as reduções, tinham que ter alimento para todo aquele povo. Foi então que em 1634, os Padres, Romero e Cristóbal de Mendonza y Orellano, trouxeram para o garrão do Brasil as primeiras cabeças de gado. Quando saíram após 1641, o gado se esparramou pelo território formando as duas grandes vacarias (domar e dos pinhais). Para lidar com esse gado selvagem, o cavalo foi o grande parceiro do homem do sul. Para o aparte, para alimentação, buscar no campo… enfim, toda lida com o boi, usando o cavalo nos deram as características que permeiam o nosso povo até hoje. Não tem como dissociar o homem, do cavalo para a lida com o gado. Dos anos 50 do século passado, para cá, o rodeio tem sido uma forma de preservação das características que identificam o gaúcho e que, em muitos casos, é o evento que aquece a economia e gera renda em pequenos municípios, como a maior festa popular da localidade. O setor de carne bovina registrou em 2021 o maior volume exportado na história, com 1,2 milhão de toneladas comercializadas, 0,71% superior à melhor marca anterior, que foi em 2008. Uma proposta que quer acabar com os rodeios no RS provavelmente queira também, acabar com o abate de bovinos e outros animais”, diz o especialista.

“A política não vale a pena”

São palavras do próprio deputado Rodrigo Maroni (PSDB) que também já foi vereador de Porto Alegre. Franco ao extremo, quase um fanfarrão, ele não tem a preocupação de que gostem dele, mas que respeitem quem não tem como se defender. Foi casado com Manuela D´Avila e na separação ele botou a boca no trombone mostrando a face que ele diz ter  conhecido da maior liderança do PCdoB.

No ano passado Rodrigo Maroni voltou a morar em Encantado, o que trouxe muita felicidade para os seus dias. A esposa é defensora pública no Forum local. De terça a quinta ele dá expediente na Assembléia. Apesar de estar na política, diz estar decepcionado com a vida pública e com a ignorância da população: “Odeio política, odeio político”. Ele justifica que muitos dos estadistas são mal-intencionados e que a política é “a única arte que só se dá bem quem faz o mal”.

Militante do movimento estudantil, dedica a sua vida a cuidar e resgatar animais em situações alarmantes. Ele alega que é necessário firmeza para lutar por uma causa solidária, e só assim conseguiu seu espaço. Segundo Maroni, em 2019, ele resgatava cerca de 60 a 70 animais por dia e vivia sob constante ameaça por fazer a guarda dos bichos. “Isso de certa forma tirou o brilho de quem fazia isso com uma rede oficial de apoio e ai me acusaram inclusive de sumir com os animais”.

Mas então,  porque ser candidato a reeleição?

“Porque há grupos que querem que eu permaneça, infelizmente ainda não tem um substituto. Minha saída significa o fim da causa animal no Rio grande do Sul, e ainda há muito por fazer. Então faço esse sacrifício pelos animais porque a política não vale a pena. É muita hipocrisia”.

Agro Dália

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo
Fale conosco!