STF avalia regulação das redes sociais e Congresso retoma debate
Ministros discutem se plataformas devem remover conteúdos sem ordem judicial; Congresso e Planalto articulam projeto de lei

O Supremo Tribunal Federal (STF) retomou nesta quarta-feira (4 de junho de 2025) o julgamento da constitucionalidade do artigo 19 do Marco Civil da Internet (Lei 12.965/2014), que define quando as redes sociais podem responder por conteúdo de terceiros .
Enquanto isso, o Congresso Nacional, em articulação com o Palácio do Planalto, prepara envio de projeto para regulamentar as plataformas, direcionado a conteúdo ilegal e fake news .
O que diz o artigo 19
O dispositivo determina que as redes sociais só podem ser responsabilizadas por conteúdos de terceiros caso descumpram uma ordem judicial de remoção.
Se a maioria dos ministros considerar o artigo inconstitucional, as plataformas poderão ser obrigadas a excluir conteúdos após simples notificação do usuário ofendido — mesmo sem intervenção judicial.
Votos já apresentados
Ministros favoráveis à mudança
- Dias Toffoli: defende remoção em casos de racismo, fake news eleitorais e ataques ao Estado Democrático de Direito.
- Luiz Fux: sugere que redes excluam imediatamente conteúdos como incitação à violência e pedofilia após notificação.
- Luís Roberto Barroso: votou por manter parcialmente o artigo. Ele quer que crimes contra a honra continuem dependendo de decisão judicial.
Dúvidas sobre aplicação
Não está claro:
- Quem definirá o que é “conteúdo ofensivo” ou “fato notoriamente inverídico”;
- Como as plataformas aplicarão a nova regra na prática.
Empresas como Google, Facebook, X e Instagram argumentam que essa incerteza pode levar à censura preventiva, com remoção excessiva por precaução.
“Qualquer matéria de jornalismo investigativo poderia ser retirada. Isso é perigoso para a democracia”, alertou Fábio Coelho, CEO do Google Brasil.
Riscos apontados por empresas
- Censura: plataformas retirariam conteúdos legítimos por medo de punições.
- Judicialização em massa: estudo do Reglab prevê 754 mil novas ações judiciais em 5 anos, com impacto de R$ 777 milhões no Judiciário.
Quem vota a seguir
O próximo a votar é André Mendonça, que já sinalizou discordância. Em 2024, ele afirmou que restringir o conteúdo publicado sem decisão judicial é um risco à liberdade de expressão.
“A democracia se faz pelo livre exercício público da razão e do discurso, ainda que imerecidos e até ofensivos”, declarou Mendonça.
STF em foco
O que está em discussão
- O artigo 19 obriga ordem judicial prévia para remover conteúdo do tipo crime de honra e discurso de ódio .
- O presidente do STF, Luís Roberto Barroso, votou por responsabilização parcial, permitindo remoção de conteúdos graves (pornografia infantil, terrorismo etc.) após notificação, sem necessidade de ordem judicial .
- Ministros Toffoli e Fux também defendem a retirada após notificação extrajudicial para casos como incitação à violência e racismo .
Caminho até agora
- Pedido de vistas de André Mendonça em dezembro interrompeu o julgamento; seu voto é aguardado .
- Ministro Gilmar Mendes afirmou que o julgamento “pode ser esboço de regulação das redes sociais” e criticou a demora do Legislativo .
Legislativo e Executivo
Conversa entre os poderes
- O Palácio do Planalto, com apoio do presidente Lula, busca agilizar o envio de projeto ao Congresso ainda neste semestre .
- O histórico PL 2.630/2020 (conhecido como PL das Fake News), arquivado em abril de 2024 na Câmara, serve como base para nova regulação .
Obstáculos no Parlamento
- O projeto foi aprovado no Senado em 2020, mas travou na Câmara. A resistência vinha de partes da oposição, que classificavam a proposta como “PL da Censura”, e defasagem entre câmaras .
- A pressão volta agora após eventos como os atos de 8 de janeiro e o atentado no STF .
Implicações no ambiente digital
- Debate envolve risco de censura privada, se as plataformas forem liberadas para agir sem controle externo .
- Especialistas apontam que, sem decisão judicial, há potencial para remoção excessiva e violação de liberdade de expressão .
- Argui-se que responsabilização baseada em notificação extrajudicial exige critérios claros para evitar abusos .
Próximos passos
- O STF segue com o julgamento sobre a constitucionalidade do artigo 19, com voto decisivo de André Mendonça por vir .
- No Congresso, o Planalto tenta retomar a tramitação legislativa com nova versão que incorpore avanços percebidos na Europa, como a DSA .