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Saúde

Janeiro Seco: veja os efeitos de interromper o consumo de álcool no começo do ano para a saúde

Especialistas explicam o que acontece com o corpo quando paramos de beber álcool e dão dicas para quem tem intenção em adotar o hábito.

Uma chance para refletir sobre os hábitos, a relação com o álcool e promover melhorias na saúde. Esse é o objetivo do “Janeiro Seco”, ou Dry January, uma campanha que teve início em 2013 no Reino Unido e que incentiva as pessoas a passarem o primeiro mês do ano sem consumir bebidas alcoólicas.

O movimento tem ganhado força nos últimos anos, seja para aumentar a disposição para exercícios físicos ou trabalho, para perder peso ou para cuidar melhor do corpo.

Em 2018, um estudo realizado pela Universidade de Sussex revelou que o “Dry January” auxilia as pessoas a beberem de forma mais equilibrada ao longo de todo o ano.

Dicas para quem deseja interromper o consumo de álcool:

A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma que não há quantidade segura de álcool para a saúde. Contudo, mesmo aqueles que têm consciência dos impactos do álcool no corpo sabem que celebrar com bebidas alcoólicas é uma prática cultural comum em várias partes do mundo. Além disso, quem opta por não consumir álcool frequentemente se depara com o desafio de conviver com amigos que o fazem, especialmente em encontros e celebrações.

Se você deseja fazer uma pausa prolongada ou interromper de vez o consumo de álcool, confira as recomendações do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA):

    • Estabeleça uma data para iniciar e não procrastine;
    • Compartilhe sua decisão com familiares e amigos. Eles podem se mobilizar para oferecer apoio;
    • Evite ter bebidas alcoólicas em casa e afaste-se de lugares que possam lembrá-lo do álcool ou estimular o desejo de beber, como bares, lojas ou a seção de bebidas nos mercados;
    • Procure realizar atividades que não envolvam álcool, como passeios ao ar livre, caminhadas e piqueniques;
    • Adote novos hábitos saudáveis que contribuem para o processo, como manter uma alimentação equilibrada, ter uma boa qualidade de sono, praticar exercícios físicos e beber bastante água.

CUIDADO: em casos de dependência mais severa, a interrupção do consumo de álcool deve ser feita com acompanhamento médico, pois pode resultar na síndrome de abstinência, que provoca mal-estar, tremores, insônia e até confusão mental e alucinações.

O que ocorre no corpo quando interrompemos o consumo de álcool?

O especialista em endocrinologia Rafael Buck Giorgi, diretor do Departamento de Adrenal e Hipertensão da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), esclarece que, ao deixarmos de consumir álcool, nosso corpo experimenta diversas mudanças, tanto a curto quanto a longo prazo.

Nas primeiras 12 horas, o fígado começa a processar o álcool remanescente no organismo. A maior parte dessa substância é transformada em acetaldeído, um composto tóxico que, em seguida, é convertido em substâncias inofensivas para ser eliminada. O corpo também começa a restaurar os níveis de hidratação, uma vez que o álcool tem efeito diurético, promovendo a desidratação.

No cérebro, as modificações estruturais podem começar a melhorar após algumas semanas de abstinência. Além disso, a neuroplasticidade permite uma reorganização funcional, ajudando na recuperação das funções cognitivas e emocionais, explica o neurologista Fidel Meira, membro da Academia Brasileira de Neurologia (ABN).

“O álcool é de fato prejudicial ao cérebro, especialmente quando consumido de forma crônica ou em grandes quantidades em um curto período. Ele provoca atrofia cerebral, perda de substância branca, e alterações moleculares e neuroquímicas que afetam a cognição, memória e comportamento. Além disso, está relacionado a condições graves como demência alcoólica e neuropatias”, destaca o neurologista.

Meira também alerta que o impacto do álcool é ainda mais grave durante a adolescência, uma fase em que o cérebro está em pleno desenvolvimento.

No que diz respeito ao fígado, o hepatologista da Unicamp, Tiago Sevá, esclarece que o nível de recuperação após a abstinência depende bastante de quão comprometido o órgão já está.

“Indivíduos com alterações mais leves, sem doenças crônicas ou fibrose (cicatrizes), podem ter uma recuperação completa do fígado em algumas semanas (de 4 a 6 semanas). Já aqueles com doenças mais avançadas, como cirrose, geralmente apresentam uma melhora significativa na função hepática, mas isso pode levar meses, e a regeneração completa não será possível”, afirma Sevá.

Para pessoas com problemas hepáticos, até o consumo moderado de álcool pode ser extremamente prejudicial. Considera-se consumo moderado até 2 doses por dia ou 14 doses semanais para homens, e até 1 dose por dia ou até 7 doses semanais para mulheres (1 dose equivale a 1 lata de cerveja, 1 taça de vinho ou 1 dose de 50ml de bebida destilada).

“O uso de quantidades maiores de 60 a 80 gramas de álcool por dia (equivalente e 4-6 doses por dia) por pelo menos duas semanas já leva a alterações estruturais do fígado. E se mantiver esse padrão por anos, há alto risco de desenvolver cirrose”, declara Sevá.

Veja as principais mudanças que ocorrem durante os períodos de abstinência:

Primeiros dias:

  • Melhora no sono: Embora muitas pessoas acreditem que o álcool auxilia no sono, ele interfere nos ciclos de sono profundo. Ao interromper o consumo, a qualidade do sono tende a melhorar.
  • Diminuição da inflamação: O álcool é reconhecido por causar inflamação no corpo. Após alguns dias sem o consumo, os marcadores inflamatórios no sangue começam a reduzir.
  • Redução da ansiedade: O álcool frequentemente intensifica a ansiedade (fenômeno conhecido como “ansiedade de rebote”). Ao parar de beber, essas oscilações diminuem.

Primeiras semanas:

  • Função hepática: O fígado começa a se regenerar. Em consumidores moderados, a gordura acumulada no fígado (esteatose hepática alcoólica) pode começar a diminuir.
  • Pele mais saudável: A hidratação e a diminuição da inflamação podem levar a uma pele mais saudável e menos oleosa.
  • Perda de peso: O álcool é calórico e frequentemente associado a escolhas alimentares pouco saudáveis. Sua eliminação pode resultar na perda de peso.

Primeiros meses:

  • Aprimoramento da imunidade: O consumo regular de álcool enfraquece o sistema imunológico. A recuperação da imunidade ocorre de forma gradual, tornando o corpo mais resistente a infecções.
  • Níveis de energia mais equilibrados: Sem os efeitos sedativos do álcool, a energia física e mental tende a aumentar.
  • Saúde cardiovascular: A pressão arterial pode diminuir, e o risco de doenças como a cardiomiopatia alcoólica começa a reduzir.

Longo prazo (6 meses ou mais):

  • Saúde cerebral: Estudos indicam que interromper o consumo de álcool pode melhorar a memória, a concentração e outras funções cognitivas.
  • Diminuição do risco de câncer: O álcool está ligado a diversos tipos de câncer, como os de fígado, boca e mama. Parar de beber reduz esses riscos ao longo do tempo.
Agro Dália

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