Especial do Dia da Mulher: a trajetória da mulher no Rio Grande, no Brasil e no mundo
Descubra mais sobre algumas das mulheres mais poderosas da história das conquistas do gênero no RS
Nos dias atuais, muito se discute sobre a representatividade da mulher na sociedade. Com o avanço do feminismo ao decorrer dos anos -desde a Revolução Francesa, onde os primeiros ideais feministas começaram a surgir- o desejo feminino de emancipação vem crescendo cada vez mais.
A presença da mulher gaúcha na história do Brasil e do Rio Grande do Sul é fundamental. Seja ela na literatura de Veríssimo, representada por Ana Terra, seja nas façanhas do passado, como as de Anita Garibaldi. A Revolução Farroupilha foi um advento que moldou a cultura e os valores gaúchos, tendo espaço especial no calendário e no coração de todos os riograndenses. Contudo, quando falamos destes episódios de conflito, a presença feminina é negligenciada. Uma vez que não há muitos relatos da participação feminina em combate, não se fala da sua atuação naquela época. Em virtude da sociedade militar e conservadora do século XVIII, desde cedo as meninas eram reduzidas a deveres religiosos e afazeres domésticos.
A pergunta é: onde estavam as mulheres quando aconteciam os ataques, incêndios e mortes da Revolução? Registros da época relatam grupos espalhados pelo estado com propostas distintas: haviam aquelas que substituiam os seus maridos na administração dos ranchos, outras assumiam a posição de barqueiras, comandando embarcações de importação de produtos agrícolas do mercado porto alegrense e muitas até acompanhavam seus esposos em combate para o cuidado de feridos.
Não somente nas cidades, a mulher também era pampiana feroz: as indomáveis indígenas das tribo Charrua e Minuano (nativas do RS) viviam sistemas de igualdade notavelmente avançados para seus tempos, uma vez que estes grupos nunca haviam tido contato com o homem ocidental. Entre as funções da mulher, estavam atividades médicas importantes e a liberdade de beber nas cerimônias xamânicas lado a lado com os homens.
ALGUMAS PERSONALIDADES FEMININAS MARCANTES NA HISTÓRIA DO RIO GRANDE DO SUL QUE TALEZ VOCÊ NÃO CONHEÇA:
Nísia Floresta: chegou ao sul em 1833, vinda no nordeste, foi cantora, educadora (primeira na educação feminista no Brasil), escritora e poetisa brasileira. Ela falava sobre as farturas das chácaras dos cinturões verdes de Porto Alegre e traduziu a obra: “Direito das Mulheres e Injustiças dos Homens”, caracterizada por ser muito audaz para a época. Como forma de minimizar os efeitos da sua ousadia, a imprensa a sabotou.
Margarida de Almeida Portugal (Marquesa de Alegrete): heroína anônima e pampeana, que em 14 de janeiro de 1717, na batalha do Catalã, ao lado de seu esposo, serviu como enfermeira, mãe e soldada na demarcação das fronteiras do território gaúcho.
Ana Eurídice Eufrosina de Barandas: foi pioneira na literatura feminina no Brasil, ou seja: sua causa não era muito popular na época. Solitária na busca de seus direitos, a porto alegrense foi perseguida e chegou a ser presa e expulsa da sua cidade em razão da formação do Partido Feminino. Em seu livro “O Ramalhete” de 1845, argumenta que a mulher deve ter vontade própria para abraçar a causa que acha vantajosa.
COMO O FEMINISMO ASCENDEU NO CENÁRIO MUNDIAL?
A Revolução Francesa de 1789 foi um dos pontapés iniciais para a busca da emancipação da mulher: dois anos depois da publicação da “Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão”, a revolucionária Olímpia de Gouges publica a “Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã”. Nela havia a proclamação de que a mulher possuía os mesmo direitos que os homens e que, por isso, tinha o direito de participar, direta ou indiretamente da formulação das leis e da política em geral. Mesmo não sendo muito bem aceita na época, Olímpia inspirou outras mulheres da sua época a lutarem por sua emancipação.
Com as mudanças causadas pela Revolução Industrial do século XIX, esse cenário começa a mudar: as mulheres começam a trabalhar nas manufaturas europeias a preço de salários baixíssimos e condições de trabalho desumanas. Essas condições eram precárias para ambos os sexos e acabaram resultando em várias rebeliões, originando a classe proletária e os impasses da época. A partir daí, o feminismo e a luta pela valorização da mulher começou a ganhar espaço e torna-se popular.
Outros eventos que impulsionaram o feminismo foram as grandes guerras mundiais, em especial a Primeira, onde, pela primeira vez na história, os homens deixaram seus cargos de alta patente nas fábricas para lutarem por suas pátrias. A partir deste episódio a mulher assume a liderança da família e o lugar das fábricas que antes cabiam ao homem, recebendo salários mais justos e participando ativamente da sociedade.
O FEMINISMO NO BRASIL
Também no século XIX surgiram os primeiros núcleos em defesa dos ideais feministas em toda a América Latina. No Brasil, o surgimento do movimento estava bastante relacionado com a chegada dos ideais anarquistas e socialistas que haviam sido trazidos da Europa pelos imigrantes.
No começo do século XX, passou a existir uma diversificação dos feminismos no Brasil, que iam de uma tendência mais conservadora (conhecido como “feminismo bem-comportado”) até o feminismo mais incisivo. Ao final dos anos 70, as ações feministas do país aliaram-se aos movimentos de luta e resistência contra a Ditadura Militar no Brasil.
Diante disso, ocorreu também uma aproximação com movimentos sociais de negros e homossexuais. Dessa forma, o feminismo se espalhou por várias cidades, ganhou espaço na televisão e propôs debates com questões relacionadas à sexualidade feminina, a violência contra a mulher, a equiparação de salários, entre outros.
Atualmente as grandes demandas do movimento feminista no Brasil concentram-se, em geral, nas questões relacionadas ao combate da cultura do estupro e no combate ao assédio, à violência contra mulher, na criação de políticas públicas que garantam o bem-estar e a igualdade de condição das mulheres e no combate à desigualdade salarial existente no mercado de trabalho.