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#RaquelCadore | A guerra invisível

“Quem não entendeu que é uma guerra, é porque não sabe o que está acontecendo.” Essa afirmação é da Juíza de Direito, dra. Vanessa Cavalieri, que trabalha e convive diariamente com esta realidade pois é responsável pelos casos envolvendo menores no RJ. Ela alerta que o ambiente digital é hoje o espaço mais perigoso para crianças e adolescentes, destacando a ingenuidade de pais, responsáveis e das escolas diante de crimes graves cometidos e sofridos de forma online por jovens, incluindo chantagens, mutilações e abusos. É um alerta duro e necessário que nos tira da zona de conforto e escancara uma realidade que muitos ainda preferem ignorar: estamos no meio de um conflito silencioso, travado dentro das casas nos quartos com a porta fechada, nas telas dos celulares, nos fones de ouvido. Adolescentes estão sendo expostos a conteúdos violentos, sexualizados, desafios perigosos, discursos de ódio, comparações cruéis. Muitos estão adoecendo em silêncio, e o pior: muitos adultos ainda não perceberam o tamanho do problema. Mais do que controlar, proteger. Mais do que vigiar, cuidar. Como pais, mães, educadores, comunidade, nosso papel é fundamental. Precisamos estar por perto, conversar, escutar, orientar, acolher e ensinar sobre o uso saudável da tecnologia. O maior escudo que podemos oferecer é o amor, o vínculo e a presença. Sim é uma guerra de narrativas, de valores, de saúde mental, e está sendo travada todos os dias, muitas vezes sob nosso olhar cansado ou distraído. Como resistir? Primeiro é preciso reconhecer o campo de batalha. Precisamos escutar o que os jovens têm a dizer, criar espaços de conversa sem julgamento, fortalecer vínculos familiares e escolares, e sobretudo, educar pelo exemplo: não adianta exigir consciência digital de quem vê os próprios adultos reféns das notificações e do engajamento. Se há uma guerra em curso, precisamos ser guerreiros, ser escudos que protegem sem sufocar, que acolhem sem omitir e que não desistem dos valores da humanidade. Que tenhamos coragem de sair da superficialidade, de enfrentar conversas difíceis, de assumir que não temos as respostas ou a receita. Que a gente não desista de olhar nos olhos, de chamar pelo nome, de estar perto, porque quando um adolescente silencia, o mundo precisa escutá-lo mais do que nunca, e quando a guerra parece grande demais, é no afeto que mora a resistência.

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