As cinzas de um vulcão submarino que entrou em erupção no Pacífico Sul em 15 de janeiro deixou o céu em diversos estados do Brasil com uma coloração diferente nos últimos dias: cor-de-rosa. O fenômeno pôde ser visto também no Rio Grande do Sul nesta terça-feira (1º). Elas viajaram por mais de 15 mil km em altitudes que variaram de 18 km a 50 km.
De acordo com meteorologistas da Climatempo, os tons variam do rosado, púrpura, avermelhado até o alaranjado e ocorrem no entardecer e amanhecer. A explicação para isso é que a explosão do vulcão jogou para a atmosfera materiais sólidos e gasosos. Um dos gases é o dióxido de enxofre, que rapidamente se transformou em sulfatos e foram se depositando nas camadas mais baixas da atmosfera (saiba mais abaixo).
“É a interação da luz do sol do amanhecer e do entardecer com essas partículas que estão suspensas na atmosfera que dão a coloração especial do púrpura, vermelho, alaranjado. Mas isso só ocorre no amanhecer e no entardecer se não estiver com muitas nuvens”, explica a meteorologista Fabiene Casamento.
A erupção do vulcão de Tonga foi no dia 15 de janeiro de 2022 e liberou dióxido de enxofre na estratosfera em forma de aerossóis. O caminho pode ser visto por satélite. Como na estratosfera os ventos vão de leste para oeste, dez dias depois, na madrugada do dia 26 de janeiro, instrumentos especiais detectaram, em São Paulo, a presença de aerossóis originados da pluma da explosão do vulcão.
Esses aerossóis também se espalharam sobre outras áreas do sudeste, como Rio de Janeiro, Espírito Santo e áreas de Minas Gerais, e, recentemente, em Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul.
Segundo Fabiene, será possível ver essas cores ao longo de todo o mês de fevereiro.
Cores, luz e ciência
Imagem mostra como fenômeno ocorre — Foto: Climatempo/Divulgação
O fenômeno também ocorre quando o índice de poluição do ar está alto. Porém, com os aerossóis do vulcão, ele ficou mais realçado e evidente, com cores mais fortes.
Para entender as cores mais avermelhadas e alaranjadas do céu, Fabiene explica que é necessário, primeiro, olharmos a luz do sol, que é branca, resultado da soma de todas as cores (que são sete: vermelho, laranja, amarelo, verde, azul, anil e violeta). Quando essa luz atravessa a nossa atmosfera, ela se dissipa pelo ar. Por exemplo, em contato com partículas de ar (seja oxigênio ou hidrogênio), muitas cores, como a violeta, o azul e o verde, se dissipam a ponto de ficarem imperceptíveis.
Quando o sol nasce ou se põe, as luzes solares atravessam um caminho bem maior da atmosfera (se comparados a quando está no meio do dia), colidindo, assim, com obstáculos, pois o sol fica mais no horizonte. Ou seja, tanto no amanhecer quanto no anoitecer, a luz está muito próxima do chão e tem que percorrer uma camada mais densa de ar.
Nesse processo, se perdem ou se dissipam muitas cores, sobrando ou se espalhando mais a vermelha e a laranja na direção em que vemos.
“Mas, quando há a presença de poluição atmosférica ou de névoa seca na região, elas ajudam ainda mais a dispersar boa parte das cores e a espalhar mais as de cores vermelhas e laranjas. Assim, como recentemente, nos aerossóis oriundos do Vulcão Tonga”, conta.