#ColunaDaMari | Não podemos continuar errando

Mais um ataque a uma escola no Rio Grande do Sul me fez refletir novamente sobre o que está acontecendo com o mundo. No auge dos meus trinta e poucos anos, ainda sou muito questionada pelo fato de não ter filhos. Apesar de viver em uma relação estável há muitos anos, confesso que, diante de acontecimentos como esse, repenso frequentemente o assunto. Afinal, estudos apontam que 10% dos adolescentes brasileiros sofrem de depressão e 22% deles se sentem deprimidos com frequência. Sem contar que o suicídio é, hoje, a segunda maior causa de morte entre adolescentes no mundo — e está a caminho de se tornar a primeira. São dados alarmantes e que devem ser levados em conta por todos nós.
Pode parecer um pouco duro, mas precisamos refletir: onde estamos errando como pais, irmãos, avós…? É na adolescência que iniciamos nossa interação social de forma mais independente, e negligenciar isso é comprometer o futuro.
Certa vez, recebi um vídeo em um grupo de WhatsApp com o título: “Isso ninguém conta sobre a educação”. Quero deixar claro que não estou afirmando que todos os casos de depressão em crianças, adolescentes e jovens estejam relacionados à educação — tampouco atos de violência como o citado acima. No entanto, é preciso acender o alerta: a educação permissiva, adotada por muitos pais da geração “millennial”, tem afetado profundamente a sociedade — e até o desejo de muitos casais de serem pais. Tenho a impressão de que a nossa geração, enquanto educadora parental, se perdeu há bastante tempo. Saímos de uma educação autoritária — e em parte violenta — que, na minha opinião, foi menos prejudicial do que a permissividade atual.
Não estou dizendo que bater em filhos, como se fazia antigamente, esteja certo. Mas alguns limites e até uma palmada educativa nunca mataram ninguém. Quem tem mais de 30 anos, provavelmente já ouviu frases como: “Para de chorar, senão vou te dar um motivo de verdade”, “Faz o que eu estou mandando porque eu sou sua mãe”, ou ainda “Vai fazer porque sim, e ponto final”. Eu, particularmente, sou grata por ter ouvido essas frases. Foram elas que me ajudaram a ser uma pessoa responsável, com coragem para enfrentar as dificuldades da vida.
A educação permissiva atual — que muitos pais confundem com “deixar fazer tudo o que quiser” — tem tornado as pessoas egoístas e individualistas. E isso tem afetado, e muito, a sociedade como um todo, especialmente nossas crianças, adolescentes e jovens. O egoísmo é uma característica humana natural, mas se torna um problema quando se manifesta de forma excessiva. O individualismo pode levar ao isolamento social, à falta de empatia e a uma competição desenfreada. Isso tudo afeta diretamente a saúde mental e emocional das pessoas. Nossos jovens estão cada vez mais preocupados apenas com seus próprios interesses e menos com o bem-estar coletivo.
O egoísmo pode ter consequências desastrosas para a convivência em sociedade. Quando as pessoas se preocupam apenas consigo mesmas, deixam de lado a solidariedade e a cooperação — o que tem gerado conflitos em escolas, locais de trabalho, espaços públicos e, principalmente, nos lares, agravando ainda mais a exclusão social.
Uma das formas mais eficazes de combater o egoísmo é cultivar a empatia. Quando conseguimos nos colocar no lugar do outro, entendemos melhor suas necessidades e dificuldades. Isso nos torna mais solidários e cooperativos.
A educação permissiva tem privado a nova geração de vivenciar a gratidão. Muitos jovens são incapazes de reconhecer as boas ações que os outros fazem por eles. A educação parental tem um papel central na formação de indivíduos menos egoístas. É essencial que os pais retomem sua autoridade, ensinando desde cedo valores como respeito, empatia e generosidade. Assim, evitamos que os “nãos da vida” e as inevitáveis “dificuldades” da realidade continuem adoecendo essa nova geração.