Como cientistas estudam a importância do núcleo da Terra
Só existe vida no planeta porque o núcleo gera o campo magnético da Terra
A ciência já foi capaz de enviar um telescópio a 23 bilhões de quilômetros espaço sideral afora (o Voyager, lançado em 1977), mas nunca acessou o núcleo da Terra. Sua camada externa fica a cerca de 3 mil quilômetros planeta adentro a partir da superfície, uma distância equivalente a uma viagem de carro entre Porto Alegre e Salvador, porém inacessível. No total, são 6,3 mil quilômetros até o ponto central do interior terrestre.
Como então sabemos que, sob a crosta, há um manto terrestre de magma e que abaixo dele existe um núcleo, com camadas externas e internas de estados físicos distintos sob grande pressão? E de que forma acessamos a informação de que há um núcleo externo, que é líquido e móvel, e outro interno, ainda mais profundo, que é sólido e denso? A resposta: ondas sísmicas.
— Nós, sismólogos, estudamos o núcleo interno usando registros de eventos sísmicos que ocorrem próximos à superfície, como grandes terremotos ou explosões nucleares, que geram uma energia que se propaga e causam vibrações nas rochas. Com isso, nós as registramos em estações sísmicas instaladas em vários pontos da superfície na Terra — explica a geóloga Thuany Costa, que estuda o núcleo interno na Universidade Nacional da Austrália, uma das principais instituições de pesquisa na área.
Importância do núcleo da Terra
Quando nosso planeta foi formado há cerca de 4,5 bilhões de anos atrás, ele nasceu a partir da concentração de gases estelares que formou o nosso sistema solar. Na época, a junção de grandes massas de hidrogênio e hélio formou matérias sólidas e metais pesados.
— No começo, a Terra era uma bola incandescente e os metais pesados migraram para a parte central do planeta, onde muito calor se concentrou, enquanto a parte externa se resfriou mais rápido. Essa crosta que se formou ajuda a preservar esse calor interno oriundo da formação do nosso planeta e que existe desde então — explica o geólogo Diogo Coelho, pesquisador em sismologia do Observatório Nacional (ON).
A partir desta origem comum aos diversos corpos celestes do sistema solar, técnicas usadas aqui podem ser usadas em outros planetas, o que é objeto de estudo da astrogeologia.
— Em Marte, temos um sismômetro operando. As atividades sísmicas que existem por lá podem ser vulcânicas ou o impacto de meteoros que fazem a estrutura do planeta vibrar. E aí os equipamentos que instalamos na superfície captam essas variações de vibração do planeta, que vão desde muito pequenas a grandes — diz Costa.