Haiti decreta estado de emergência e toque de recolher após gangue invadir prisão e libertar quase 4 mil detentos
Governo afirmou que as forças de segurança receberam ordens para 'utilizar todos os recursos legais à disposição' para prender os infratores
O governo do Haiti decretou, neste domingo, estado de emergência e toque de recolher na capital, Porto Príncipe. A medida ocorreu um dia depois que uma gangue armada invadiu uma penitenciária e liberou quase todos os 4 mil homens presos no local. Ao menos dez pessoas morreram no ataque. Segundo comunicado, os decretos foram planejados para durar até quarta-feira, mas poderão ser prolongados.
O ministro da Economia, Patrick Michel Boisvert, assinou o decreto como primeiro-ministro em exercício do país. O primeiro-ministro, Ariel Henry, estava no Quênia para finalizar os detalhes com o presidente queniano, William Ruto, para o esperado envio de uma missão de apoio à segurança do Haiti, que tem sido muito afetado pelas ações das gangues.
A administração local indicou que o objetivo das restrições é “restabelecer a ordem e tomar as medidas apropriadas para recuperar o controle da situação”. O toque de recolher foi instaurado “devido à deterioração da segurança” em Porto Príncipe, onde são registrados “atos criminosos cada vez mais violentos perpetrados por gangues armadas”.
O comunicado ainda diz que “a fuga de presos perigosos coloca em risco a segurança nacional”, e que as forças de segurança “receberam ordens para utilizar todos os recursos legais à disposição para fazer cumprir o toque de recolher e prender todos os infratores”.
Crise de segurança
O Haiti enfrenta uma grave crise política, humanitária e de segurança desde o assassinato do presidente Jovenel Moïse, em 2021. As forças de segurança estão sobrecarregadas pela violência das gangues, que assumiram o controle de áreas inteiras do país, incluindo a capital. Apenas em janeiro, cerca de 1,1 mil pessoas foram mortas, feridas ou sequestradas, e as Nações Unidas classificaram o período como “o mais violento em dois anos”.
Entre os prisioneiros que fugiram no sábado, segundo o jornal Gazette d’Haïti, estão “membros importantes de gangues poderosas”, incluindo envolvidos na morte de Moïse. Construída para comportar 700 presos, o local abrigava mais de 3,6 mil em fevereiro do ano passado, conforme dados da Rede Nacional de Defesa dos Direitos Humanos. Um funcionário da penitenciária disse que cerca de 100 detentos optaram por permanecer em suas celas por medo de serem mortos no tiroteio.
Desde quinta-feira, gangues armadas atacaram locais estratégicos da capital, alegando que pretendiam derrubar o governo do polêmico primeiro-ministro, que está no poder desde 2021 e deveria ter abandonado o cargo no início de fevereiro. Após o ataque de sábado, o governo denunciou a “selvageria de criminosos fortemente armados que queriam a todo custo libertar pessoas detidas, principalmente por sequestro, assassinato e outros crimes graves”.