ONG brasileira em Angola vira alvo de críticas por exposição de crianças nas redes
Projeto Zuzu for África alegou falta de documentação para encerrar atividades temporariamente; entidade era alvo de polêmica por “turismo humanitário”
A ONG Zuzu for África, criada por duas irmãs brasileiras e atuante na província de Bengo, em Angola, anunciou a suspensão de suas atividades por tempo indeterminado. O encerramento temporário ocorre em meio a críticas sobre a exposição de crianças nas redes sociais e alegações de “turismo humanitário”.
Estrutura robusta, apoio de famosos
Com hospital, escolas e infraestrutura própria, o projeto ganhou visibilidade por meio de doações de celebridades e influenciadores digitais brasileiros, que costumavam visitar o local e divulgar ações sociais nas redes.
O foco da ONG era combater a desnutrição infantil e ampliar o acesso à saúde e à educação em uma das regiões mais pobres de Angola. Centenas de crianças eram atendidas mensalmente, segundo dados divulgados pela própria organização.
Críticas por “turismo humanitário”
O crescimento da popularidade também trouxe questionamentos. A ONG passou a ser acusada de praticar “turismo humanitário”, termo usado para descrever a exposição de situações de pobreza como forma de autopromoção digital.
Entre os pontos mais criticados:
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Uso de imagens sensíveis: fotos de crianças em situação de fragilidade foram amplamente divulgadas por visitantes do projeto, gerando críticas sobre a exploração da pobreza como ferramenta de marketing pessoal
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Privacidade e ética: especialistas questionam se há consentimento adequado e respeito à dignidade dos menores nas publicações
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Desequilíbrio de poder: críticos apontam que a estética das postagens reforça estereótipos e coloca os beneficiários como pano de fundo para a imagem dos visitantes
ONG suspensa por tempo indeterminado
Em nota publicada nas redes sociais, a Zuzu for África informou que as atividades no território angolano estão suspensas por tempo indeterminado, sob a justificativa de que a ONG ainda não concluiu os trâmites documentais exigidos pelas autoridades locais.
A decisão foi comunicada dias após o aumento da repercussão negativa em redes sociais, mas a entidade não relacionou os dois fatos.
“Nosso compromisso com a transparência e a legalidade permanece firme. A suspensão temporária se deve à necessidade de ajustes administrativos”, diz o comunicado oficial.
Pressão por mudanças na comunicação
A polêmica ganhou força especialmente entre profissionais de comunicação, ONGs locais e internautas de Angola e do Brasil, que pedem revisão nos critérios de exposição das comunidades atendidas.
“Não se trata de negar a importância da ajuda, mas de discutir como ela é apresentada”, afirmou uma especialista em direitos da infância.
Impacto social e reação de apoiadores
Apesar das críticas, defensores da iniciativa destacam o impacto positivo da atuação da ONG na região, principalmente no fornecimento de refeições, atendimentos médicos e acesso à educação básica.
O futuro do projeto dependerá agora da regularização documental e de possíveis mudanças nas diretrizes de comunicação e ética institucional.






