
O primeiro-ministro do Nepal, K. P. Sharma Oli, renunciou nesta terça-feira (9) em meio a uma onda de protestos liderada por jovens da geração Z, que foram às ruas contra a corrupção no governo e o bloqueio de 26 plataformas de redes sociais, como Facebook, WhatsApp e Instagram. A crise se agravou após a morte de 19 manifestantes em confrontos com a polícia na segunda-feira (8), e a revolta se espalhou por todo o país.
Redes sociais como gatilho
A mobilização foi impulsionada pela tentativa do governo de restringir o acesso a redes sociais sob o argumento de combater fake news e discurso de ódio. A medida, vista como censura, atingiu em cheio uma população altamente conectada — o Nepal tem uma das maiores taxas de uso per capita de redes sociais no sul da Ásia. Mesmo após o recuo da proibição, a indignação se transformou em revolta contra anos de corrupção, privilégios da elite política e desemprego juvenil.
Explosão nas ruas
Sem liderança centralizada, milhares de jovens — a maioria nascidos entre 1995 e 2010 — organizaram protestos em Katmandu e outras cidades. Vídeos virais mostravam o contraste entre o luxo ostentado por filhos de políticos, chamados de “nepo kids”, e a realidade de estudantes com dificuldades de acesso a educação, emprego e serviços básicos. O termo virou símbolo da desigualdade social no país.
Durante os confrontos, manifestantes invadiram o parlamento, incendiaram prédios públicos e casas de políticos. A repressão policial incluiu o uso de gás lacrimogêneo, balas de borracha e munição letal. Cerca de 200 pessoas ficaram feridas, e o Exército chegou a ameaçar intervir para conter a crise.
Renúncia e incerteza
Oli, que governava pela quarta vez com apoio do Partido do Congresso Nepalês, renunciou diante da pressão crescente. Ainda não há definição sobre quem assume o comando do país. Analistas alertam que, sem reformas estruturais e resposta efetiva às demandas populares, os protestos podem se intensificar.
Movimento descentralizado e digital
A mobilização da geração Z no Nepal se destaca por:
-
Uso massivo de redes sociais como ferramenta de organização
-
Protestos espontâneos e sem líderes visíveis
-
Foco na crítica ao nepotismo, corrupção e desigualdade
-
Presença de estudantes e crianças em idade escolar nas marchas
Mais do que uma reação a uma proibição digital, o movimento escancarou a insatisfação com um modelo político percebido como excludente, ineficaz e desconectado da realidade da juventude.