A fortuna de Donald Trump vale cerca de US$ 2,5 bilhões, o que o deixa US$ 400 milhões abaixo da linha de corte para integrar o Forbes 400, ranking das pessoas mais ricas dos Estados Unidos deste ano. O magnata do mercado imobiliário, que ocupava a posição número 339 na lista de 2020, continua bastante rico, mas perdeu US$ 600 milhões desde o início da pandemia. Ações de tecnologia, criptomoedas e outros ativos prosperaram na era da Covid-19, mas imóveis em grandes cidades – que constituem a maior parte do patrimônio de Trump – definharam, tirando o ex-presidente do clube mais exclusivo dos EUA.
Se Trump procura alguém para culpar, ele pode começar por si mesmo. Cinco anos atrás, o republicano teve uma oportunidade de ouro para diversificar sua fortuna. Recém-saído vitorioso da eleição de 2016, as autoridades federais de ética pressionaram o presidente eleito a se desfazer de seus ativos imobiliários. Isso teria permitido que ele reinvestisse os lucros em fundos multimercados e baseados em índices, e assim assumisse o cargo sem conflitos de interesse.
Membros do Poder Executivo normalmente têm pouca escolha a não ser atender às exigências das autoridades de ética. Pessoas que detêm ativos que possam criar conflitos de interesse com seus empregos diários no governo correm o risco de violar a lei. As regras, no entanto, não se aplicam ao presidente, como Trump orgulhosamente observou durante uma coletiva de imprensa nove dias antes de entrar na Casa Branca. “Eu realmente posso dirigir meu negócio e o governo ao mesmo tempo”, disse ele a uma multidão de repórteres reunidos na Trump Tower. “Não gosto de como isso soa, mas eu poderia fazer isso se quisesse. Eu seria a única pessoa autorizada a fazer isso. ”
Trump decidiu manter seus ativos. Na época, eles valiam cerca de US$ 3,5 bilhões após a dedução de dívidas. Se, em vez disso, ele tivesse optado por vender tudo, ele teria pago valores significativos a título de impostos sobre ganhos de capital. Trump adquiriu suas cinco participações mais valiosas há muito tempo, então ele provavelmente registraria enormes ganhos em cada uma delas.
Se ele tivesse que pagar a maior alíquota do imposto sobre ganhos de capital – 23,8% a nível federal, mais 8,8% para o estado de Nova York – isso teria cortado cerca de US$ 1,1 bilhão de sua fortuna, deixando-o com US$ 2,4 bilhões no primeiro dia de sua Presidência. Mas o que teria parecido uma grande perda poderia ter se transformado num lucrativo redirecionamento.
Ao reinvestir aqueles US$ 2,4 bilhões em um fundo de índice que acompanha o S&P 500, por exemplo, a fortuna de Trump teria inflado para US$ 4,5 bilhões agora, deixando-o 80% mais rico do que é hoje. Em outras palavras, sua recusa em desinvestir custou-lhe US$ 2 bilhões.
Essa é uma estimativa conservadora – a decisão poderia ter lhe custado muito mais. Normas pouco conhecidas do Código Tributário Federal permitem que funcionários do governo que abrem mão de seus ativos obtenham um documento chamado de certificado de desinvestimento, que os permite evitar o pagamento de impostos sobre ganhos de capital. Pense nisso como uma forma do governo de convencer os funcionários a fazerem a coisa certa e evitar conflitos de interesse.
No entanto, uma vez que Trump não estava sujeito às regras que proíbem conflitos de interesses, é possível que essa isenção não lhe fosse concedida. Walter Shaub, que dirigia o Escritório de Ética Governamental na época em que Trump se preparava para assumir a Presidência, disse à Forbes que teria ficado feliz em entregar a Trump um certificado de desinvestimento, mas não está claro se os funcionários da Receita Federal teriam respeitado o documento. A equipe de Trump nem chegou a perguntar sobre isso, de acordo com Shaub. “Eles nunca demonstraram interesse em desinvestimentos.”
A mente fechada de Trump cobrou seu preço. Se o ex-presidente tivesse conseguido evitar os impostos sobre ganhos de capital, teoricamente poderia ter reinvestido US$ 3,5 bilhões no S&P 500 no dia em que entrou na Casa Branca. Nesse cenário alternativo, Trump valeria cerca de US$ 7 bilhões em setembro deste ano, quando a Forbes fixou estimativas para sua lista anual. Esse patrimônio seria suficiente para ganhar o lugar de 133ª pessoa mais rica do país. Em vez disso, ele saiu do Forbes 400 pela primeira vez em um quarto de século.