A história do Brasil se encaixa bem no pensamento de Marx, segundo o qual, quando uma tragédia histórica se repete, ela vem como farsa. Novembro, no Brasil, nos lembra tempos do caudilho Getúlio Vargas.
Em 1935, o levante comunista que começou em 23 de novembro, em Natal, continuou em Recife no dia seguinte e eclodiu no Rio de Janeiro em 27 de novembro. Isso fez com que, já no dia 26, Getúlio Vargas decretasse o Estado de Sítio, ampliando os poderes do Estado brasileiro para que ele pudesse reprimir não apenas os comunistas, mas também outros adversários que pudessem ameaçar sua liderança. Em 1937, também em novembro, Getúlio encontrou outro pretexto para dar mais um golpe. Ele usou um estudo de autoria do Capitão Olímpio Mourão Filho, que levantava a hipótese de uma insurreição popular, o chamado “Plano Cohen” – um suposto complô judeu-comunista fictício.
Com isso, Getúlio cercou e fechou o Congresso e decretou o Estado Novo, passando a governar sozinho, por decretos-leis, e colocando interventores nos estados (menos em Minas Gerais).
Até na pátria-mãe, novembro teve sua agenda de golpe comunista. Em 25 de novembro de 1975, em Lisboa, um grupo de oficiais da Polícia do Exército e Cavalaria, com paraquedistas, ocupou quartéis. Capitães barbudos, como Fidel, transmitiram manifestos por emissoras de rádio. No entanto, o Regimento de Comandos agiu a tempo, e, no mesmo dia, com a morte de três soldados, abafou o movimento, pondo fim ao período revolucionário iniciado com o 25 de abril de 1974, que levou Portugal a um estado democrático de direito.
Neste novembro, vivemos de sobressaltos, numa repetição de histórias que se transformam em narrativas terminadas em farsas. Governantes usam essas situações para se impor e eliminar adversários ou lideranças consideradas perigosas. A história mostra como Getúlio procurou unir o país em torno de si, com o pretexto de ameaças à democracia. O general Galtieri invadiu as Malvinas para tentar unificar o povo argentino em torno de sua ditadura. Maduro, tentando unir o país em torno de si, “anexou” parte da Guiana – ainda apenas no mapa. E agora, dizem que Lula se prepara para anunciar que, diante da trama golpista, ele seria a solução democrática nacional.
A conversa entre militares no Brasil não chega a ser um planejamento, e muito menos execução de cogitações. Segundo o inquérito, eles confessaram que esperavam uma ação que o presidente não adotou. Por isso, abandonaram o intento, xingando o presidente. Contudo, forneceram munição para aqueles que querem anular Bolsonaro, um líder que cresce quando é atacado. A facada, que foi cogitada, planejada e executada, foi um golpe que não se consumou totalmente porque não o matou, mas foi tão extremo que acabou elegendo-o. Agora, ele foi tornado inelegível e indiciado por uma tentativa à qual não aderiu.
São repetições sucessivas do mesmo estilo histórico. Como Marx qualificaria essa insistência?