#ColunaDaMari | “Um rastro de bosta”

Começo a coluna de hoje com uma cena que vejo com mais frequência do que gostaria. Toda vez que visito meus pais, no Bairro Nossa Senhora Aparecida, lá estão eles: tutores de pets desfilando com seus roupões elegantes, muitas vezes acompanhados de seus cães de raça, em caminhadas que mais parecem rituais matinais de ostentação. Até aí, tudo certo — afinal, quem não aprecia um passeio com seu melhor amigo de quatro patas? O problema é o que fica depois desse passeio. Vejo, repetidamente, cães defecando em calçadas e pátios dos vizinhos, enquanto seus donos observam passivamente a cena. E então, com uma naturalidade de fazer inveja a qualquer político em escândalo, viram as costas e seguem sua rotina. Deixam para trás, como diziam os irreverentes Mamonas Assassinas, “um rastro de bosta” — literalmente. O mais revoltante é que esse comportamento ocorre em um bairro habitado, em sua maioria, por idosos. Pessoas que muitas vezes mal conseguem cuidar de sua própria saúde, quanto mais se abaixar para limpar a sujeira deixada por um animal que nem é seu. É de uma falta de empatia e de senso coletivo que, sinceramente, não dá para ignorar. E aqui vai um recado direto aos tutores: a racionalidade, nesse caso, não é dos animais — é de vocês. A responsabilidade pelo comportamento, pela higiene e pelo impacto social do seu pet é inteiramente sua. Não se trata apenas de educação, mas de saúde pública. Fezes caninas acumuladas nas ruas não são só feias ou incômodas — elas representam risco de contaminação por verminoses, bactérias e parasitas. Crianças brincam nas calçadas. Idosos caminham por ali. Alguém pensa nisso? A verdade é que virou moda adotar ou comprar um animal de estimação, o que é ótimo — desde que essa escolha venha acompanhada de compromisso. Ser tutor é mais do que tirar selfies fofas para o Instagram ou colocar uma roupinha combinando no cachorro. Envolve afeto, claro, mas também obrigações: vacinas em dia, passeios seguros, ambiente limpo e recolhimento das fezes. E não custa repetir: recolher o cocô do seu cachorro é sua obrigação, não um favor à sociedade. Muito se fala, com razão, sobre leis mais rígidas para punir maus-tratos e abandono de animais. Mas está mais do que na hora de começarmos a falar também sobre sanções para o descaso cotidiano. Porque abandonar as fezes do seu cachorro no meio da rua, além de falta de educação, é desrespeito com o próximo e com a cidade onde você vive. É preciso que haja fiscalização, sim — e se necessário, multas. Porque, infelizmente, para muitos, a consciência só desperta quando mexe no bolso.
“Encantado é uma cidade que preza por seus espaços públicos, pela convivência harmoniosa entre pessoas e animais, pela qualidade de vida. Mas isso precisa ser construído por todos. E não será possível enquanto alguns poucos ainda agem como se as regras de civilidade não se aplicassem a eles. Que tal começarmos hoje a mudar isso? O primeiro passo pode ser tão simples quanto sair para passear… com uma sacolinha na mão.