Coluna do Perondi

#NolimarPerondi | O poder da ignorância para lamentar comentários do vereador de Roca Sales

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Registrei recentemente aqui neste espaço que parecia ser em vão comentar a situação política de Roca Sales, pois era notório o desprezo para com os meios de comunicação, por conseguinte com a opinião pública. Teve até vereadores se vangloriando da “inutilidade” de jornais e rádios em sessão transmitida nas redes sociais. O mais absurdo é que não houve sequer uma voz discordante de seus pares no sentido de fazer valer o respeito, pelo menos isso, para com os meios de comunicação e seus profissionais. Teve até um deles, indignado sobre comentários dos excessivos gastos em diárias à capital federal, que subiu à tribuna e dono da verdade, da sua no caso, de forma vil ‘ despejou’ grosserias.

Verde ou Azul

Depois disso pensei que seria melhor não escrever mais sobre políticos e política de Roca Sales, pois lá havia um código próprio dos vereadores no entendimento da função pública aonde a imprensa é desnecessária e a opinião pública muito menos. Optei por isso, pois me lembrei da fábula do burro e o tigre. E não cito a fábula por entender ser melhor, apenas porque é assim mesmo:

“O burro dizia que a grama era azul e o tigre discordava afirmando que era verde. Depois de um tempo resolveram buscar o leão, o rei da selva, para arbitrar a demanda. O burro se adiantou e disse: ‘Sua Alteza, não é verdade que a grama é azul’? O leão respondeu: ‘Certo, a grama é azul’. Na sequência o burro continuou: ‘O tigre discorda de mim e me contradiz e incomoda, por favor castigue-o! O rei então declarou: ‘O tigre será punido com cinco anos de silêncio’. O burro pulou alegremente e continuo seu caminho repetindo: ‘A grama é azul, a grama é azul…’ O tigre aceitou sua punição, mas perguntou ao leão: Vossa Majestade, por que me castigou? Afinal, a grama é realmente verde’. O leão então respondeu: ‘Na verdade, a grama é verde sim’! O tigre perguntou: ‘Então por que me pune’? O leão respondeu: ‘Isso não tem nada a ver com a pergunta de se a grama é azul ou verde. O castigo acontece porque não é possível que uma criatura corajosa e inteligente como você perca tempo discutindo com um burro, e ainda por cima venha me incomodar com essa pergunta’!

Mesmo parecendo pueril esta fábula é de uma verdade gritante. Mesmo que um bom debate enriquece o conhecimento é luta inglória debater com um burro, melhor deixá-los em seu próprio mundo de fantasias. A ‘lição’ mostra “que é perda de tempo discutir com tolo e fanático que não se importa com a verdade ou realidade, mas apenas com a vitória de suas crenças e ilusões”.

Volta

Mesmo com o propósito já estabelecido, ou quase, reconsidero e volto a comentar sobre mais uma sessão da Câmara de Roca Sales por um fato que assombrou a todos pela falta de postura pública de um vereador que protagonizou mais uma lamentável cena considerada racista que denota a total falta da liturgia que o cargo exige. O vereador Antônio Valesan, que momentos antes havia pedido vistas a dois projetos de abertura de crédito de repasses do governo estadual e federal de verbas vindas para a saúde com a justificativa de dar uma ‘lição’ ao prefeito Fontana que não estaria ‘ajudando’ a população como ele imaginava, foi à tribuna reclamar de um serviço realizado pela administração e disse: “Se isso continuar e não tiver um trabalho de gente branca, de gente que sabe fazer esse trabalho com técnicas, de pessoas que sabem fazer nós vamos embargar aquilo lá”. Sim o cidadão usou a expressão “serviço de gente branca”.

Lamentável

Há poucos dias falei sobre o empoderamento da ignorância para lamentar alguns comentários desse mesmo vereador de Roca Sales. Esse empoderamento está sendo turbinado porque existe um descontentamento por parte de moradores atingidos pelas cheias com relação às ações da administração municipal. Esses moradores estão lotando a Câmara em dias de sessão ordinária e de forma pouco trivial participam com aplausos, críticas e vaias. Diante disso alguns dos edis estão se portando como se estivessem nos comícios eleitorais. Esse clima de empolgação acaba contagiando alguns incautos, que acabam falando bobagens.

Desculpas

O vereador Valesan notando que havia cometido um possível crime de racismo, quando usou o termo “serviço de gente branca”, pediu um aparte ao presidente Paulo Ricardo Gonçalves, que fazia uso da tribuna, e pediu desculpas em virtude do discurso insensato”. Incrível que o presidente, que é negro, cedeu o espaço para ele se desculpar, quando na verdade deveria ter recriminado no momento em que o termo foi falado, aliás, nenhum vereador o fez. Pior ainda é ouvir as desculpas, sempre, pode acompanhar, sempre vem com a afirmação: “tenho amigos negros”, que no caso específico saiu assim: “convivo todos os dias com pessoas de diferentes cores”. Depois da repercussão nacional do fato a Câmara publicou uma nota de repúdio “manifestações de cunho preconceituoso…” do vereador Antônio Valesan.

Defesa

Não tenho a pretensão de defender o vereador Antônio Valesan, nem mesmo isentá-lo de possíveis sanções judiciais ou falta de decoro, mas acredito que ele falou a verdade nas duas situações: “Serviço de gente branca” e quando afirmou em suas desculpas que não é racista. Há poucos dias vi um depoimento que se adequa muito bem ao contexto. Alguns de nós, que já tenha passado dos 50 anos, crescemos quando era comum e aceito socialmente certas definições, por exemplo: Cantamos “olha a cabeleira do Zezé…” ou ainda ensinávamos nossos filhos: “Atirei um pau-no-gato” e alegremente confirmávamos “mas o gato não morreu”. Esse ‘tratamento’ “serviço de gente branca” era mais comum que se imagina e este vereador apenas repetiu o que ele acha ‘normal’, porque não se desconstruiu para viver em sociedade plural, por duas hipóteses, inocência ou ignorância, se bem que não pode se gabar de ser ignorante.

Constatação

O gaúcho Aparício Torelly, também conhecido por “Barão de Itararé, é autor de uma frase que continua bem atual: “De onde menos se espera, daí é que não sai nada”. Para quem acompanha as sessões da Câmara de Vereadores de Roca Sales deve ter notado a falta de direção na lógica dos assuntos tratados pelo vereador Antônio Valesan, constantemente emenda um assunto a outro, foge do contexto inicial e possivelmente tenha utilizado a frase preconceituosa sem que queira ter dito, não se tratando de ato falho, acredito que tenha sido falta de cognição mesmo.

Prático

Existem várias famílias que perderam tudo, algumas delas duas vezes. A primeira com a grande enchente de setembro e recentemente quando ocorreu nova cheia que também foi de grandes proporções. Estas pessoas estão precisando de ajuda do setor de assistência social da prefeitura de Roca Sales. O que fica bem transparente é a notória falta de uma comunicação da administração pública e uma forma mais assertiva para solucionar os problemas causados por esses eventos naturais. É momento de ser prático nas ações porque tudo é prioridade. Está sendo valorizado o mal feito, de quem por ventura tenha se apropriado de maior número de doações do que realmente precisa, que deveria ser tratado como caso de polícia, do que buscar soluções mais urgentes para os realmente necessitados, que não são poucos.

Impeachment

Na sessão desta semana da Câmara de Vereadores de Roca Sales foi lido um pedido de responsabilização do prefeito Amilton Fontana por perda de doações que estavam em um local que foi atingido pela segunda cheia. Muitos móveis, eletrodomésticos, colchões e roupas foram perdidos. Um cidadão da comunidade fez o pedido e foi lido na sessão. Caso seja votado o crime de responsabilidade do prefeito Fontana pode ser responder ao um processo de impeachment.

Responsabilidade

O prefeito de Roca Sales, Amilton Fontana, esteve na sessão desta semana da Câmara de Roca Sales. Respondeu a diversas perguntas e críticas de vereadores. Sobre este local onde estavam esses donativos que se perderam com a segunda enchente o prefeito admitiu que a chave do local foi repassada aos bombeiros voluntários que fariam a retirada, mas como tiveram ocorrências de salvamento de pessoas o resgate dos donativos ficou para um segundo momento e depois até a chave do local teria sido perdida, impossibilitando a retirada.

Momento

Tenho dúvidas se o motivo alegado no pedido de abertura de processo de responsabilidade tenha base para um pedido de impeachment do prefeito Fontana. Como este processo é mais político do que técnico tudo pode acontecer. Na verdade, não acredito que seja importante ao município, que busca reerguer de dois desastres naturais e muitas perdas, inclusive de vidas, ter ainda um processo desse tipo. Tenho a impressão que seria importante melhorar urgentemente a informação e de forma muito clara e transparente repassar à população do município. E que estas informações também cheguem aos vereadores para que tenham entendimento do que está se fazendo para diminuir prováveis desinformações que apenas geram discórdia e perda de tempo.

“Ao examinarmos os erros de um homem, conhecemos o seu caráter”. – Confúcio

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