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Entrevista | Dezembro 2013 – Anilo Caetano Turatti

Com espírito empreendedor acentuado, desde muito jovem sabia o que queria e perseguiu seus objetivos sem nunca esmorecer, reservando sempre um tempo para o combustível que o move - a vida na comunidade e a política.

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Eu tenho que fazer uma declaração de amor para a Orte, minha companheira para tudo nesses 60 anos.

Encontrar um horário na agenda de Anilo Caetano Turatti foi um bom exercício, ainda mais em meio a uma obra de melhoria no Hotel Turatti, o negócio que o empreendedor sempre quis manter.

Ortenila Turatti, sua esposa e companheira de negócios há seis décadas, foi quem deu um empurrãozinho para adiantar alguns dias a entrevista. “Não deixa para depois. Tu podes parar a entrevista de vez em quando para vistoriar as obras aqui no Hotel.”

Ele aceitou a sugestão da esposa e, numa quarta-feira à tarde, iniciamos uma grande conversa – ele é um bom papo e tem na memória com muita clareza tudo o que vivenciou, com datas, nomes, locais.

Anilo é uma espécie de porto seguro para os netos, também, mas o navio tem a mão forte do casal. Eles tem uma casa no litoral norte, em Santa Teresinha que gostam muito, certamente porque ali eles levam uma vida igual a de todo mundo. Com café da manhã, almoço e jantar, preparado pelos dois, o que não acontece em Encantado, onde a casa serve apenas de dormitório, já que eles passam pelo menos 15 horas dentro do Hotel.

Sinta-se muito amada, Ortenila. O que conseguimos durante a entrevista foi a declaração que você é uma grande mulher, mãe, batalhadora. “Não rezo tanto quanto a Ortenila, mas tenho muita fé e meus momentos de reflexão que dão sentido a vida.”

Anilo Caetano Turatti é filho de Rosa Spessatto e João Batista Turatti, casado com Ortenila Rockembach, e em meio ao início da vida em comum e os negóciosforam chegando os seis filhos: Romeu, Rejane, Roberto, Renira, Rogério e Roseli, todos nascidos em Relvado, nos primeiros oito anos do casamento.

Mais tarde chegaram os nove netos, e agora o casal vive a expectativa de conhecer o primeiro bisneto que chega em fevereiro.

“A vida é assim, se renova e recomeça todos os dias,” ensina Anilo que utiliza a longa experiência a seu favor e ao invés de se acomodar está sempre irrequieto em busca de novos desafios.

É fácil encontrá-lo por perto do Hotel, no centro de Encantado, sempre cercado de pessoas conversando sobre diversos assuntos, dos negócios à política, e ao futebol. É colorado, paixão que divide com a esposa Ortenila, e com os filhos Roberto (Beto) e Rogério (Repolho). A filha Roseli ganhou uma boneca Susi de um viajante para trocar de time, e mais tarde a Rejane resolveu acompanhar a filha, e se juntaram aos gremistas Romeu e Renira.

Dos netos o mais velho (José Caetano) e o caçula (Eduardo) seguiram o avô, em praticamente tudo, no jeito, na forma de agir, nas manias e também no futebol, como não poderia deixar de ser.

A política, nos remete à origem da família, na Itália. Foi no século passado que João Batista Turatti (um tio bisavô distante) se tornou uma liderança fascista, sendo homenageado naquele País com nome de ruas, estações de metrô, praças e monumentos. Era o braço direito de Mussolini.

Nas causas que defende sempre procurou envolver a família e de quebra, colocar todo mundo para trabalhar, como voluntário, assim como faz com os amigos, é um motivador – e acredita no que faz.

Ele conheceu a esposa num baile e passaram a se encontrar aos domingos, nos jogos de futebol, sempre com alguém por perto. Namoraram por quatro anos até que foi marcado o casamento, que aconteceu no dia 2 de janeiro de 1954 na vila de Relvado.

Em 1968 compraram o maior Hotel de Encantado e se mudaram para a sede do Município. Na bagagem uma dívida financeira enorme para pagar e seis filhos, o mais velho com 13 e a mais nova com cinco anos.

O Hotel sempre foi administrado pelo casal e pelo Romeu, o filho mais velho, mas é referência para todos. Aliás, todos os filhos já trabalharam lá em algum momento.

De onde vem essa energia de, aos 82 anos, continuar participando da vida da comunidade?

É de cada um. Eu gosto de participar e então é só ter vontade de fazer e se dedicar. Desde a juventude sempre fui muito entrosado com as pessoas da minha ‘picada’ (Capoeirinha – Revado), principalmente com as pessoas mais velhas. Estudei lá até a Seletra (última série do primário) era o que tínhamos na época e no último ano em que fiquei na escola ajudava o professor. Somos uma família de origem do meio rural.

O senhor trabalhou na roça?

Trabalhei, até os 22 anos quando casei.

É verdadeira a história de que o senhor ia para a roça com os irmãos e não trabalhava, só mandava?

(Risos…) Tem um fundo de verdade. Sempre gostei de mandar.

E a história de quebrar a enxada?

(Sorrindo) É verdade, aconteceu. Casamos no dia 2 de janeiro e moramos uma semana na casa dos meus pais, enquanto esperávamos o dia para nos mudar para Caçador (Nova Bréscia).

Íamos para a roça junto com o pessoal. No último dia eu olhei para minha mãe e disse: Chega, nunca mais volto para a roça. Bati com a enxada numa pedra e quebrei o cabo.

Era uma profissão muito judiada, pouco valorizada, com poucas opções. Hoje a situação é bem melhor.

O que aconteceu depois?

Nos mudamos para Linha Caçador onde já tinha adquirido uma “bodega” com o dinheiro da venda de uma área

de terras que havia ganhado do meu pai. Já no primeiro ano incrementamos o armazém, passamos a vender tecidos e aquelas mercadorias que não eram produzidas na colônia.

Negociávamos os produtos da colônia pelos do armazém. Tínhamos uma tropa de mulas que transportavam a mercadoria até o armazém e pagava frete até Lajeado. No segundo ano comprei um caminhão, um “Chevrolet Tigre”. De 1954 a 1956 ficamos no Caçador e depois nos mudamos para Relvado, com o nosso primeiro filho, o Romeu, que tinha quase dois anos.

Em Caçador não construiu nenhum clube para a comunidade?

O entrosamento foi bom, mas não deu tempo. Apareceu a oportunidade de comprar a loja do Salim Laude (hoje

tem um prédio do Gilson Delazari). O negócio era bom e eu não podia perder aquela oportunidade. Pesou muito também o fato dos meus pais terem se mudado para a sede (Relvado), mas faltava dinheiro para concretizar o negócio e aí o jeito foi me socorrer com os amigos.

No ano seguinte construímos uma loja de alvenaria, já que o prédio original era em madeira e estava infestado de cupins. Era uma loja forte que tinha toda a linha de armazém, tecidos, confecções – tínhamos a exclusividade da linha Alfred, chapéus de boa qualidade, fogões, enfim era um shopping da época.

É verdade que pessoas de outros municípios iam para Relvado fazer compras?

Sim. As duas principais esquinas de Relvado abrigavam duas lojas completas.

Uma era a nossa e a outra do Augusto Polesi. Se comercializava de tudo, e era comum atender clientes de Encantado, Putinga, da Bréscia, de Anta Gorda e Arvorezinha. Além disso, eu ia para o interior buscar mercadorias e continuava levando produtos para Lajeado e a Orte comandava o balcão, a casa e ainda cuidava das crianças.

Nessa época trouxe meu cunhado e meu irmão para trabalharem comigo, porque eu tinha também a representação da balas e bolachas Lautert, e um atacado onde comprava produtos da Neuguebauer, Nestlé, Lacta e vendia, inclusive, cosméticos de várias marcas.

Cheguei a ter três caminhões e duas caminhonetes fazendo a praça em toda a serra e missões. Só não ia para a fronteira. Foram 12 anos de muito trabalho até o dia 1º de junho de 1968, quando nos mudamos para cá.

E a história da nota fiscal?

(Risos) A Orte não vai gostar… O cliente chegou com a esposa e a filha que ia casar para comprar todo o

enxoval, da roupa de cama a máquina de costura. Era um domingo de manhã e a carroça que tinha chegado cheia de feijão saiu lotada de mercadorias. Na hora do acerto, a mulher se referiu ao anúncio que ela tinha ouvido no rádio sobre a loja. Na hora, a Orte arrancou o cabeçalho da nota. Quem anunciava no rádio era o Augusto Polesi.

E a vida na comunidade ficou de lado com tanto trabalho?

Não, sempre fui atuante, participei da construção do salão paroquial (praticamente como é hoje) que foi o primeiro no Alto Taquari, e não era apenas para festas, mas para prática de esportes também.

Tivemos a ideia e o apoio do padre Giocondo Vaccaro, que acreditou no projeto e propagandeou. A comunidade encampou e colaborou. Foram três dias de festa na inauguração. A gente precisa fazer alguma coisa pela comunidade e eu gosto da organização da sociedade.

Depois, queríamos que a escola das freiras passasse para o Estado e, novamente na companhia do Pe. Giocondo, estivemos no Palácio Piratini e fomos recebidos pelo governador Euclides Triches, que atendeu  nossa reivindicação. A escola funcionou por muitos anos onde hoje é a Prefeitura Municipal.

E foi em Relvado seu envolvimento com o primeiro clube?

Sim. Relvado não tinha um clube social. A partir de um time de futebol foi fundado o Esporte Clube Relvado.

Elegemos o Dr. Aureliano (médico), o primeiro presidente, e ele sugeriu que fosse alugado um local para ser a sede social, que depois foi comandada pelo Osvaldo Bergamaschi, e eu fui eleito o terceiro presidente.

Aí começou a campanha para a construção da sede própria?

É melhor pisar no que é teu. A ideia de construir a sede gerou uma grande polêmica. Os de um lado da Praça (da Harmonia, no centro de Relvado) queriam que o Clube fosse construído do seu lado e os do outro lado, óbvio, no deles. Cada um tinha seus motivos e não havia nenhum terreno disponível defronte a praça para acabar com a polêmica.

Surgiu então a área onde o Clube está hoje, que pertencia ao Celeste Cauzzi. A assembléia decidiu comprar o imóvel e começamos a tratar da construção.

Pedimos autorização para depositar a terra retirada do terreno na rua. Eis que um dia fui chamado na Delegacia

de Polícia e intimado a retirar a terra de lá, por ordem da Prefeitura. Acatamos e no final o município usou a terra para fazer aterros em outros locais.

Era uma retaliação política?

Outro motivo não tinha, mas isso ficou no passado. O Clube foi construído e serve a comunidade até hoje.

A briga terminou por ai? E a fama de linha dura?

Sim. As obras seguiram e um ano depois estávamos inaugurando a sede do Esporte Clube Relvado. Nessa época eu já estava morando em Encantado.

Eu não sou linha dura, sou cuidadoso, zelo pelo que é meu e principalmente pelo coletivo. Eu era presidente, e o Reinaldo Zen e o meu irmão Silvio, foram suspensos do Clube por um período, porque eles eram muito bagunceiros. Foi quando o Reinaldo entrou a cavalo na sede.

A punição acabou sendo ainda maior e a minha fama de linha dura veio dali

Como surgiu o negócio do hotel?

Eu vinha para Encantado quase todos os dias, fazia o serviço

de banco e fiquei sabendo que o Darci e o Alcides Radaelli queriam vender o hotel.

O negócio não demorou muito para se concretizar.

Fechamos a loja com todo o estoque dentro e um ano depois voltamos para liquidar as mercadorias. O imóvel só foi vendido dois anos depois para o Francisco Jandir Delazari.

No negócio entrou um caminhão Mercedes quase novo e uma caminhonete Chevrolet de entrada, e o restante parcelei. Na verdade vendi um patrimônio que valia 10 e comprei outro por 100. Eu tinha menos de 40 anos, era a hora de arriscar.

Nessa época de Relvado já fazia política?

Já. Era do PTB e fazia campanha para os companheiros lá no distrito, desde a época do Lavratti, Borsatto, Salim Chanan. Me lembro como se fosse hoje do discurso do Brizola em Relvado. Encheu a Praça de gente.

Sofria alguma represália?

Existia o Grupo dos 11. Era um grupo de resistência ao regime militar. Era difícil conviver com a ditadura. Tivemos companheiros que ficaram muito tempo presos por causa disso.

O senhor sempre se manteve nessa linha do trabalhismo?

Em 1964 os partidos políticos foram extintos. Ficou a Arena (a favor dos militares) e o MDB (a oposição). Fiquei com o MDB. Na época o Brizola estava exilado, como muitos líderes políticos.

Nas eleições subsequentes sempre mantivemos o grupo de oposição na ativa, com candidatos, fazendo bancada na Câmara de Vereadores, até que na eleição de 1972 não colocamos candidato a prefeito, só a vereador. Apoiamos a Arena que tinha como candidato a prefeito Jorge Moreira e a vice Nédio Marchese.

Rachamos a Arena, colocamos um contra o outro, e de certa forma preparamos a eleição de 1976 e elegemos três vereadores.

E tiveram êxito no propósito de chegar a Prefeitura?

Sim. Em 1976, coordenei a campanha do MDB que tinha três candidatos a prefeito: Antônio Lorenzi/Luiz Pedro

Dalla Lasta; Adroaldo Conzatti/Neudi Dacroce; Raimundo Bolsi/Arlindo Emmer. Fundamos sub-diretórios em todas as linhas, organizamos o partido, eu e o Adroaldo (Conzatti), principalmente. O vencedor daquela eleição foi o Lorenzi.

Já foi candidato?

Fui candidato a vereador nesta eleição de 1976. Coordenei a campanha do MDB para prefeito e vereador e

deixei a minha campanha pessoal de lado. Faltaram poucos votos para a eleição, mas o resultado foi altamente

positivo. Elegemos o prefeito e a maioria na Câmara.

Essa eleição mudou a vida de Encantado?

Mudou, porque a Arena estava há 16 anos no poder e foi bom ter a alternância, mudaram os rumos e Encantado ganhou com isso. A política são ciclos, tanto que esse também terminou. Depois de 20 anos, mas terminou em 1996.

Quando Brizola voltou do exílio que posição o senhor tomou?

Brizola chegou do exílio e na noite seguinte nos reunimos no gabinete do então prefeito de Lajeado, Darci Corbellini, para tratar da fundação do novo PTB.

Em pouco tempo Ivete Vargas (sobrinha de Getúlio Vargas) ficou com a sigla e o Brizola fundou o PDT. Fiquei desanimado, queria largar a política, mas o Sereno Chaise e outras lideranças estiveram em Encantado, nos reunimos e resolvemos fundar o PDT no município.

Lutamos muito, mas com as trocas de partidos, o surgimento de novas siglas, ficou tudo muito difícil.

Sempre acompanhei a vida dele (Brizola), inclusive fui na sua posse como Governador do Rio de Janeiro, e tive a honra de participar do jantar da posse. Ele jogou fora a presidência quando decidiu ameaçar cassar a concessão da Globo. Depois disso tinha decidido me afastar da política.

Por que não se afastou?

Porque a política local também tomou rumos diferentes. No início da década de 90 o Neri Sucolotti veio para Encantado, fundou o PTB e voltei a participar, desta vez pela mão do meu filho Beto (Roberto Turatti) e do deputado Zambiasi (Sérgio). O Neri trouxe com ele os vereadores José Calvi (hoje vice-prefeito), Geraldo Rusin, Miguel Scattola e Narciso Roveda.

Na eleição de 92 o Neri concorreu a prefeito com Derqui Mottin (PDS) de vice, e o Beto se elegeu vereador. Perdemos para o Adroaldo Conzatti, por pouco.

E veio mais uma eleição, esteve envolvido também?

Em 96 o Neri volta a ser candidato com o Paulo Costi (então vereador do

PDS) de vice, na mesma coligação da eleição anterior. Na noite da convenção, depois de ter sido apontado como candidato do partido, Neri decidiu desisitir da candidatura e sugeriu que Paulo fosse o candidato a prefeito e o Beto, que também era vereador, a vice.

Foi um sufoco. A desistência do Neri não podia se tornar pública enquanto não houvesse uma nova decisão e composição. Eu estava apreensivo, não achava inteligente o Beto arriscar a reeleição de vereador e enfrentar uma campanha a majoritária que já começava mal.

As horas seguintes foram um tormento, começou a pressão, o tempo era curto e o grupo não podia se dispersar. Foi quando a Renira (filha) disse que o Beto queria aceitar e não seria a família que ficaria contra ele.

Me convenceu dizendo que a chance de vencer era grande, pois o povo estava cansado dos mesmos nomes, que a candidatura era uma novidade, tinha muito mais chances que se fosse o Neri e que havia cheiro de mudança no ar. Refleti e achei que eles tinham razão.

Mais uma vez fomos para a campanha e depois de 20 anos vencemos o PMDB.

Foi o seu melhor momento na política?

Foi um dos bons momentos.

Que outros o senhor citaria?

Em toda a minha vida política eu mais ganhei do que perdi. Quando digo, ganhei, me refiro as urnas. Por uma questão de justiça, o único incentivo que recebi dos cofres públicos foi de isenção do ISS e IPTU, na época do prefeito Evaldo Zílio, quando construí 25 apartamentos novos no Hotel. Passamos muito tempo sendo o melhor Hotel do Vale do Taquari. Sem falar no aprendizado, nas amizades, nas conquistas e também nas derrotas, que não considero derrotas. Ninguém perde sempre.

E a candidatura do Beto com o Jonas Calvi de vice como foi?

Percebíamos que era uma eleição difícil.

Haviam duas forças contrárias muitos fortes e nós éramos a alternativa, a terceira via. O povo entendeu que não era o momento. Não teve eleição em Encantado nas últimas cinco décadas em que não estivesse nos bastidores ou na linha de frente.

Eleição custa caro?

É preciso investir naquilo que tu acreditas e naquilo que gosta. Eleição é democracia e ela tem um valor imensurável.

De onde vem essa paixão pela política?

Depois que tu te envolve uma vez é muito difícil abandonar.

Eleição se ganha e se perde, mas quando se perde tu tens que reconhecer a vontade da maioria e prestigiar aquele que venceu.

A política é dinâmica. Se valorizamos a nossa comunidade devemos apoiar aquele que está no poder, isso não quer dizer que não devemos cobrar. Devemos cobrar boa administração sim, mas apoiar também.

O senhor votou no Lula?

Votei. A primeira vez no segundo turno quando disputou a presidência com

o Collor e quando se elegeu e reelegeu. Acho que fui o único na minha família. Votei na Dilma também.

Já sofreu alguma represália por atuar politicamente?

Apenas uma vez, diretamente, mas não vem ao caso.

O que o senhor acha da pouca participação e interesse dos jovens pela política?

Eles (jovens) não se dão conta do quanto é importante a política, porque ela decide a vida e os rumos de todas as pessoas. Política e politicagem tem diferença. Os políticos estão desgastados e acho que é isso que os afasta.

A política lhe impediu em algum momento de seguir a sua característica de empreendedor?

Não. No início dos anos 80 ganhamos uma licitação para administrar o restaurante do Hotel Quitandinha, em Petrópolis (RJ), onde ficamos dois anos. Foi um ótimo negócio, e só não permanecemos por lá porque nenhum dos meus filhos quis sair de Encantado. Eles eram jovens e aquele era o melhor momento.

A exemplo de Relvado, aqui também sua participação em entidades é efetiva?

Sou presidente do CRE (Clube Recreativo Encantado), há 20 anos ininterruptos. Do Clube Caça e Pesca, há muitos anos. Do Clube Comercial sou sócio desde a fundação. Participo da CDL, ACIE, APAE, Círculo Operário, CTG Giuseppe Garibaldi, e na maioria assumi cargos diretivos, acho que esqueci alguma…

Faço questão de participar de iniciativas que ajudam a comunidade, porque é o mínimo que se pode fazer, a gente vive no comércio, vive na comunidade, é um hábito que tenho e eu gosto de estar em contato com as pessoas.

O senhor gosta de construir?

Quando eu assumi a presidência do Caça e Pesca o clube só fazia a função de legalizar armas e caçadores, mas há 15 anos construímos a sede social, que está entre as quatro melhores do Estado, instalada em belíssima área.

Os atiradores do Clube participam do Campeonato Gaúcho de Tiro ao Prato e há mais de uma década não deixa a elite dos atiradores. Está sempre na categoria A.

E o CRE?

Quando queimou a sede social do CRE, a área da piscina continuou sendo utilizada pelos sócios e, tempos depois acabou meio abandonada, foi quando nos reunimos e decidimos reabrir a sede

campestre que funcionou por muito tempo, mas quando ficou inativa a assembleia de associados decidiu repassar a Prefeitura que construiu prédios habitacionais no local.

A sede social era muito precarária, mas várias atividades aconteceram ali, inclusive baile de debutantes e serviu por mais um período até que se locou para o Colégio Cenecista Mário Quintana, que permanece até hoje.

Vamos voltar aos esportes. A sua atuação ficou só no Esporte Clube Relvado?

Nos anos de ouro do Esporte Clube Encantado, na década de 70, fazia parte da diretoria e do grupo que colocou o clube na primeira divisão do futebol gaúcho. Por algum tempo os atletas “moraram” no hotel e recebemos muitas delegações que vinham jogar, como o Grêmio e o Inter, por exemplo. Essa época rendeu muito trabalho, mas também muitas histórias. Naquele jogo histórico em que o Encantado saiu ganhando do Grêmio por 3 a 0 eu estava na social do Olímpico porque havia combinado de acertar a conta do hotel naquele dia. Foi difícil segurar o grito de gol, mas fazer o quê. A história do empate no segundo tempo todo mundo conhece.

Não posso esquecer da época do Trianon quando passaram pelo hotel e por Encantado grandes craques com Falcão, Zico, Carpegiani e tantos outros.

Como o senhor consegue aglutinar as pessoas ao seu redor para atingir os objetivos?

Com muito trabalho, cobrando a participação dos companheiros. Não deixo ninguém em paz. Quando vejo que um se acomoda vou atrás.

Qual o negócio que o senhor considera o mais importante, que mais lhe trouxe resultado?

O Hotel e a corretagem de imóveis. Durante toda a minha vida – sou corretor de imóveis – fiz muitos negócios, comprei e vendi. Posso citar a Britadeira Encantado, o Hotel de Rio Pardo, entre outros.

O hotel é o negócio que o Turatti nunca quis vender. Por quê?

Porque o hotel nos deu muita segurança, crédito, nos deu status. É onde nós vivemos, criamos toda a nossa família. A convivência que temos no dia a dia com pessoas de todas as partes do Brasil e do mundo é muito importante. É uma viagem constante. Conversamos todos os dias com pessoas diferentes.

Onde a Dona Ortenila entra em tudo isso? Concordas que por trás de um grande homem existe uma grande mulher?

É verdade. E neste caso é do lado, até porque ela enfrenta qualquer coisa, não tem medo do trabalho. Faltando poucos dias para completar 60 anos de casamento e de balcão ela ainda não mede esforços para continuar.

É uma batalhadora, exemplo de mãe, de mulher, de companheira.

Anilo Turatti - Ortenila Rockemback - Hotel Turatti
Anilo e a esposa Ortenila – união na vida e nos negócios.

Os seis filhos casaram, então porque o almoço em família continua acontecendo diariamente?

Nós nos reunimos todos os dias, os que estão aqui, os que estão fora e vem nos visitar almoçam com a gente no hotel. A vida inteira foi assim. Filhos, noras, netos. É uma maneira de manter a convivência na família.

É onde se discute de tudo: trabalho, ideias, política, negócios, alegrias, tristeza, “encrencas”. Família é assim. E nós não abrimos mão de tê-los ao nosso lado.

Não seria para controlar os filhos?

Não. É a nossa forma de confraternizar.

O senhor é um homem vaidoso?

Acho que sim. Tenho as minhas vaidades. A maneira de agir, de me apresentar diante das pessoas.

Acho que fui o primeiro homem de Encantado a pintar os cabelos e o bigode.

É verdade que quando o senhor gosta de uma roupa compra mais de uma, que tem algumas manias?

Sim, inclusive a cor. Manias todo mundo tem, a minha é de perfeição, eu sei que não é muito fácil trabalhar comigo, mas eu gosto das coisas bem feitas.

O senhor tem paixão por carros?

Tenho. Sempre tive dois. Um automóvel e uma camionete, que uso mais

a serviço, inclusive das entidades que participo e o carro para passeio. E gosto de carro novo, e cada vez que eu vou trocar é uma briga com a Orte que acha que não precisa. Agora mesmo estamos começando mais uma batalha (risos). Só que carro novo é mais seguro, não?

Entrevista veiculada na Edição 41 da Revista Visual | Ano 26 | Dezembro de 2013

Capa da Revista Visual | Jornal Força do Vale Edição 44 | Ano 26 | Dezembro 2013
Capa da Revista Visual | Jornal Força do Vale Edição 44 | Ano 26 | Dezembro 2013

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