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Entrevista | Dezembro 2014 – Jorge e José Calvi

Gargalhada em dose dupla

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Os irmãos José Calvi e Jorge Calvi encararam com muito bom-humor o convite para a inusitada entrevista. “Vai sem um belo presente de final de ano para os leitores…” considerou o mais novo, ou seria o mais velho? Gêmeos idênticos, os filhos de Albino Calvi e Jurema Bosini, tem mais quatro irmãos – Idilar, Alberto, Edgar, Geraldo e a ‘princesinha’ Maria Helena, a Neca.

José, é o atual vice-prefeito de Encantado, em dois mandatos seguidos. Foi secretário da Agricultura, vereador, faz shows de humor e tem um programa na Encanto FM, aos domingos pela manhã. É casado com Carmen Isabel De Conto, tem dois filhos, a Gabriela e o Lucas, que estão seguindo a profissão de advogado do pai.

Jorge é advogado e empresário, atual presidente do PTB de Encantado, casado com Leci Madalena Casaril, pai de Jonas, Rafaela e Francis, avô de Gabriel, Eduarda e Antônio. Tem muito orgulho dos filhos advogados e do Francis que está se formando em História, acha que também a caminho do Direito.

Quem nasceu primeiro? Em várias sessões de conversas muito animadas, os gêmeos contaram com riqueza de detalhes e datas.

– Eu sou o mais velho, com uma hora e meia de vantagem. Na época em que nascemos a família residia na Santa Clara, e nesse dia a mãe estava no hospital e nós nascemos lá porque queríamos estar perto da mãe… Nós nascemos com quase 12 meses – quase porque com 12 é burro – e nós somos muito educados. Era uma gentileza total. Um dizia para o outro: Sai tu primeiro, não tu. Tu primeiro. Não. Até que o pai disse: “Fora de li tosatti.”

Jorge – Há controvérsias. O Zé diz que é o mais velho, mas sou eu, porque se ele saiu primeiro é porque entrou depois. Se ele entrou depois quem é o mais velho sou eu porque fui concebido antes…

Vocês eram ou são confundidos um com o outro?

Zé – Sim. Até hoje. Jogávamos no time da Screc, e fomos a Nova Bréscia para um amistoso contra o Tiradentes. No primeiro tempo fiz três gols. Eu era assim, mais ou menos no futebol, o Jorge… sobrava sempre a posição de goleiro.

Jorge – O Zé tinha ido no baile no sábado e o treinador Ciro Cristoff me mandou entrar no lugar dele. Na primeira jogada cobrei o lateral para o lado errado… Eu só ouvia, pega o ponteiro esquerdo. Não deixa ele jogar. Vai para cima dele, gritava o goleiro do Tiradentes desesperado. E o pessoal vinha em três, quatro em cima de mim. Era uma pancadaria só.  Olhava para o banco e não via mais o Zé para trocar de lugar comigo. Os meus companheiros eram só gargalhadas, e quanto mais o goleiro gritava para me pegar, mais eles jogavam a bola para mim.

– Pensei que o Jorge fosse morrer naquele dia.

Como vocês encaram a condição de gêmeos?

Zé – Nós sempre nos divertimos muito, levamos na brincadeira.

Jorge – A mãe nos diferenciava quando pequenos, porque eu tenho dois redemoinhos. O Zé é pobre até em redemoinho, só tem um.

Ela me chamava a toda hora. “Jorge vai buscar isso, vai buscar aquilo, me traz a vassoura, o balde… o pinico.” Eu não tinha folga. Um dia reclamei, porque sempre eu. “Parque te sei piu braveto,” ela respondeu. Então tá. Aqui está o Zé, chama ele também. Eu virei as costas e ela:

– Jorge vai buscar …

Como foi a infância de vocês?

Jorge – Saímos da Santa Clara e fomos morar no Santo Antão. Tínhamos poucas condições e os Machado eram os donos do pedaço. Eles eram muitos, era aquela confusão.

– Comecei a ficar magro, com depressão e a mãe me levou para o médico. “O que tu tens?” Eu queria ser Machado… Imagina se Deus tivesse atendido.

Vocês se acham parecidos?

– Sim. Fisicamente. Agora menos porque o Jorge está engordando.

Jorge – Mas o Zé vai engordar.

Vocês brigam? Brigaram? Brigavam?

Jorge – Nunca brigamos. A mãe contava que tínhamos uns cinco anos e o Zé machucou o pé e não podia caminhar e eu queria brincar. Carreguei o Zé nas costas de casa até o paiol. Não lembramos, mas demonstra o que é a nossa vida. É sempre assim, um ajudando o outro.

Teve algum momento em que vocês acharam ruim serem gêmeos?

– Nunca, nunca. Pelo contrário, nós sempre soubemos aproveitar. O Jorge nunca desmente quando se faz passar por mim. Eu ao contrário, quando chega no fim digo que não sou o Jorge.

De onde vem essa característica (mais conhecida no Zé) de contadores de piadas e causos?

Jorge – O pai tem senso de humor, mas diferente da mãe. Acho até que vem mais dela, da veia dos Bosini. Isso é da convivência. O Zé é mais conhecido porque levou para o lado profissional. O humor veio para somar nas nossas vidas.

– No ambiente do dia a dia, num jantar, o Jorge é mais extrovertido. Eu estou mais preparado para o palco.

Como vocês chegaram ao Festival da Mentira de Nova Bréscia?

– 1982. Eu trabalhava na Cooperativa e nós fomos convidados para contar umas piadas. O Jatir Mezacasa, então presidente da Cosuel, fez questão de nos dar carona no Corcel I, no sábado de manhã. No meio do caminho disse que tinha nos inscrito no I Festival da Mentira.

Jorge – Montamos duas histórias. O Zé ficou em primeiro e eu quarto lugar.

– Empatei com outro competidor de Nova Bréscia. Contamos o causo de novo e pelas palmas do público eu ganhei.

O que te trouxe de bom e ruim vencer o Festival?

– As vezes as pessoas utilizam esse lado bem-humorado para me menosprezar. Para mentir em Nova Bréscia tu tem que ser bom. Quizeram, inclusive em campanhas políticas. O bom é que a partir dai a minha carreira como humorista desencadeou. Comecei a ser convidado para contar a mentira e outros causos em rádio, televisão e passei a fazer um roteiro para subir ao palco, era o que seria hoje o standup. Narrava os rodeios e passava o tempo dos intervalos contado piadas e o pessoal gostava muito. Os mais “antigos” me dizem que sentem falta disso. Já fiz mais de 500 shows. Nunca me dediquei exclusivamente e profissionalmente ao humor. Faltam dois anos e 24 dias para me dedicar mais aos shows.

Então não vais mais concorrer?

Zé – Hoje e há mais tempo estou pensando seriamente nisso.

Quem casou primeiro?

Jorge – Fui eu, com 20 anos. “Estupidel.” Namorei quatro anos, comecei quando sai do seminário. O maior drama foi contar que precisava casar. Era meu aniversário e convidei a mãe e o pai para irem jantar no sogro e anunciei: Vamos noivar hoje e casar no mês que vem. A Leci Madalena Casaril usou um vestidinho azulzinho. E tem um detalhe, o Jonas foi junto. Na época, eu era marido de professora. Ficava em casa e ela me disse para fazer a comida. Coloquei sal no feijão, imaginem a quantidade. Levantamos da mesa várias vezes, mas tivemos que comer de qualqur jeito, porque não tinha outra coisa. Teve um dia que abri a mesma gaveta umas três vezes para ver se encontrava uma moeda.

– O Jorge era tão bom cozinheiro que a Leci disse para fazer uma sopa, bem mandado ele fez, só que trocou a água umas … assim, três vezes… Bonito foi quando o Jonas nasceu e a minha mãe insistia que ele era parecido comigo. O Jorge dizia, mas mãe, nós somos parecidos. “Não, é o Zé escrito”, insistia ela. Fui mais esperto, casei com 25 anos com a Carmen De Conto. Estou casado há 35 anos.

Quando essa situação de contar as moedas começou a mudar?

Jorge – Conto moedas até hoje. Não pesperdiço dinheiro. De marido de professora fui trabalhar na Acel e depois na Cosuel. Em 1986 sai da Cosuel para montar a metalúrgica. Na época pedi para meu cunhado, Odilon Casaril para ser meu sócio, mas ele não quis, optou por permanecer no emprego. Fui ao escritório de contabilidade e encaminhei a empresa só no meu nome porque ninguém queria ser meu sócio. Estava indo para casa a pé, é claro, e parei para olhar a vitrine no Demétrio Pretto e encontrei o Zé. Contei e ele disse que queria ser meu sócio. Poucos sabem que o Zé é um excelente torneiro mecânico. A JJ Metalúrgica foi um bom negócio até estourar os planos econômicos lá pelos anos 90. Como não tínhamos muito capital de giro a situação ficou difícil.

Qual foi o maior susto que vocês já levaram?

– Eu e o Alder (irmão) fomos visitar o Jorge – que tem um medo terrível de, dentista, médico e doenças – que estava convalescendo de uma cirurgia de hérnia e tratamento dentário…. Só perguntamos se ele estava bem, e começamos a rir muito. O Jorge se balançava todo, apertava a barriga e gemia de dor. Fomos praticamente expulsos do hospital. Cheguei em casa e encontrei a Carmen e a Gabi sentadas no muro chorando. “Ele não aguentou,” disseram.

Me afrouxei, sentei no muro… cheio de remorso, ele tinha rido muito. – Quem não aguentou? perguntei aflito.  A Gabi abriu as mãozinhas e me mostrou o canarinho que tinha morrido.

Jorge – Uma ocasião o Zé estava doente e a mãe tratava, sabe com aqueles chás. E quanto mais ela dava remédio mais ele ficava raquítico. Dias depois o meu pai disse, “é quel altro que lé malá”.

Qual foi a primeira experiência profissional de vocês?

– Depois que voltei do seminário, trabalhei no Giordani. Aprontei muitas. No fim do corredor tinha uma pia onde ficava a sede da UVA (União dos Vagabundos Atrapalhados). Nós estávamos conversando e o Ampère Giordani jogou um balde de água lá de cima e pegou em mim. Ao invés de me esconder fui para o balcão, todo molhado, ele passou por lá e eu reclamei que não podia nem conversar que jogavam água na gente. Aprendi muito no Giordani. Tinha milhares de ítens e no fim já sabia quase todos os preços de cor. Enquanto trabalhava, num período, decorei a poesia “Retorno de um Bravo”, com 30 ou mais estrofes, e com ela ganhei o primeiro lugar no Rodeio de Progresso. Depois fui para o Colégio Agrícola em Ana Rech, onde participei de sete peças teatrais dirigidas pelo padre e fazíamos turnê pela região.

Jorge – O Zé era solteiro, tinha algumas namoradas na serra, e estava se formando técnico em agropecuária. Cheguei para a cerimônia de formatura com a Leci. Fui uma correria para todo o lado, uma das namoradas do Zé achou que ele era casado.

Aprontaram outras?

– O seu Carlos Giordani tinha dificuldade de nos distinguir. Eu chegava e ia abrir os portões. O Jorge entrou na loja, sentou e anunciou. Não vou trabalhar, já trabalhei bastante por hoje.

Jorge –  O seu Carlos chegou e perguntou. “Estás doente?” Não tenho vontade mesmo, respondi. Nisso chega o Zé sem saber de nada e cumprimenta. “Boa tarde seu Carlos.” Sem entender nada ele sai resmungando, “eles tem a voz igual…”

E a passagem pelo Rio de Janeiro?

– Trabalhei nove meses como gerente geral da Churrascaria Pampa na Barra da Tijuca, em 1996. Tinha propostas para ficar e até uma rádio me convidou para ficar. Passei três semanas pensando, era um tempo muito difícil lá, de violência. Voltei  quando o Paulo e o Beto ganharam a eleição e me convidaram para ser secretário da Agricultura. Nesse meio tempo, em seis anos, conclui a minha faculdade de Direito.

Quando estava no fim do curso a Gabi também passou. E por questões financeiras, eu fiz todas as cadeiras e ela a metade. Ela se formou e o Lucas intensificou o curso e conclui em junho de 2015.

Passamos muitas dificuldades. Eu me inscrevia em todas as cadeiras e pagava se podia. No segundo semestre refinanciava tudo porque sabia que no final do ano tinha os shows e eu poderia quitar a dívida. Foram anos e anos nessa rotina.

O Jorge fez faculdade primeiro?

Jorge – Já tinha os três filhos, o Francis era pequeno, ainda estava na Cosuel e disse para a Leci que ia voltar a estudar e uma das razões era que nas rodas de amigos não conseguia acompanhar as conversas de futebol, mulheres, política…. No segundo semestre de 84 convidei o Zé e fizemos o vestibular na Unisinos e passamos. Saimos de casa as quatro da madrugada e as seis já estávamos na porta da Unisinos, fechada. Lembra, Zé?

Ele era secretário da Agricultura e como tinha muitas reuniões, o trabalho ficou incompatível com a faculdade e o Zé desistiu. Eu fui até o fim. Uma das qualidades que eu tenho é a perseverança. Teve semestre que fiz uma cadeira só, porque sabia que se desistisse não voltaria mais. Demorei nove anos para me formar, em 93. Teve dia que sai de casa sem nenhum centavo. Se fosse hoje não passava do pedágio.

Muito aperto…

Jorge -Quando me formei  a metalúrgica estava em baixa e parti para o Direito. Em 92 eu trabalhei como estagiário no Ministério Público, e em 93 no Fórum, sempre de graça. O Ministério Público tinha nessa época a atribuição de fazer as homologações dos trabalhadores rurais e eu auxiliava a Promotora, Miriam Vilamil Balestro, e atendia o público. Foi ai que amadureci para o Direito e comecei minha carreira.

Podemos dizer que os Calvi são uma família de advogados?

Jorge – Se não é pedreiro, é advogado. Ninguém seguiu a profissão do pai que era castrador de suínos…

– Eu segui, sou técnico em agropecuária… O curso completo, agricultura e pecuária…

Qual o caso mais complicado que trabalhou?

Jorge – Foram tantos. O Direito é muito difícil, porque cada caso tem uma peculiaridade, depende da percepção, quanto mais tu estudas mais complicado ele fica.

Alguém ficou descontente com o trabalho como advogado?

Jorge – Acredito que sim. Porque se eu for fazer a tua aposentadoria, por exemplo, e não tiver os documentos, o direito e não alcançar aquilo que achava que seria o correto, vão dizer que é culpa do advogado.

De onde vem a vivência tradicionalista?

– Foi da época do Giordani. Fui convidado para dançar na invernada do Giuseppe, onde conheci a Carmen. Me lembro que atravessava a cidade no sábado à tarde com a bombacha e a bota embaixo do braço porque éramos motivo de chacota: “coisa de grosso” pouca gente usava pilcha. Nas horas artísticas promovidas pelo Harry Lopes dançava, contava causo, declamava. Fui desenvolvendo esse meu lado “artístico”.

O Rodeio surgiu nessa época?

– Na vivência com o CTG participávamos dos Rodeios em outras cidades e quando fui Patrão do CTG o prefeito era o Adroaldo Conzatti. Eu comentei com ele que gostaria de promover o primeiro rodeio em Encantado. E ele disse, “faz o rodeio, se der prejuízo a Prefeitura paga e se der lucro fica para o CTG”.  Não contei para ninguém e houve empenho máximo de todos. O Rodeio foi um grande sucesso que se repetiu ano após ano.

Jorge – Isso me faz lembrar da 1ª Festa Campeira, em Estrela. Estávamos todos acampados e pedi para o Reni Nunes para andar a cavalo. Prontamente ele disse que sim, mas como o cavalo era manso precisava “dar uma convidadinha”. Montei em pelos e quando levantei o relho ele disparou. Era um cavalo de carreira, de chancha reta. Eu só vi uma arvorezinha no meio do caminho se aproximando e ele passou voando e ela ficou sem nenhuma folha. Correu muito, até que ele resolveu parar. Nisso ouço o narrador do Rodeio dizendo: “Vejam a destreza do patrão do CTG de Encantado, José Calvi.” Ele estava narrando a desgraça. Pensei, estou salvo. Quando coloquei uma perna do outro lado, ele se voltou e disparou novamente voltando ao lugar da partida. Passamos de novo pela coitada da árvore, aí cairam até os galhos. Cheguei de volta e a Leci disse “tu tá todo verde,” e o pessoal ria sem parar.

– Eu passei uma vergonha…

Jorge – Fiquei verde, mas fiz bonito.

Como a política entrou na sua vida?

– Enquanto secretário da Agricultura, era patrão do CTG, fiz programa no sábado à tarde na Rádio AM, uma mescla de italiano e de tradicionalismo, me tornei conhecido e me disseram deveria concorrer a vereador. Só assinei a ficha no PMDB quando deixei o cargo de patrão do CTG, por respeito a sociedade.

Jorge – Eu disse para a minha cunhada que tinha três objetivos na vida: estudar, formar os filhos e dar uma moradia para cada um e depois ser prefeito. Muito tempo depois ela (Clevi) me disse ‘só faltava ser prefeito’. Eu já nem lembrava mais. Quando o Zé foi candidato a vereador pela primeira vez me pediu ajuda e eu disse sim. Anos depois o Jonas estava fazendo estágio no Mistério Público em Porto Alegre e como a família deviria colocar um candidato, segundo o partido, nós o chamamos para concorrer. A primeira eleição do Jonas foi uma grata surpresa.

Ainda tem esse sonho de ser prefeito?

Jorge – (Pensativo.) Eu acho que não. Na medida que o Zé e o Jonas estão na política eu fui deixando de lado esse desejo (ser prefeito). Quando abri mão para o Zé ser candidato a vice, abdiquei desse sonho, que só não aceitei porque tinha que deixar de advogar. Fiquei candidato a vice do Baixinho da quarta-feira a noite até segunda de manhã.

O Adroaldo (Conzatti) me chama de corrido e o Baixinho (Agostinho Orsolin) de vice até hoje. Na época os meus filhos, Jonas e a Rafaela não estavam preparados para assumir o escritório sozinhos. Quando aceitei o Francis e o Jonas foram chorar, um em cada banheiro.

Por que?

Jorge – Eu acho que por emoção. Foi na eleição que o Beto foi candidato a prefeito, o Jonas a vice, eu a vereador. Foi uma situação muito estranha, porque se as pessoas diziam que não votavam no prefeito e vice eu não conseguia pedir o voto para mim. Mesmo assim fiz 377 votos, quase sem fazer campanha. Eu nunca mais aceitaria uma situação como essa e não aconselho ninguém a viver essa experiência.

Foi uma tentativa de terceira via?

Jorge – Os mais velhos sempre dizem que é preciso mudar, mas quando aparece uma liderança jovem, criam-se os empecilhos. Por isso entendo porque é tão difícil a terceira via encontrar um espaço.

Por que a troca de partido?

– Fui líder do governo na Câmara dois anos e meio, me dedicava e levava as reivindiações da comunidade e meus pedidos não eram levados em conta de maneira alguma. Em certo momento fui falar com o Adroaldo e ele disse ‘sai do partido que vamos fundar o PTB’. Nesse meio tempo o Neri (Sucolotti) ficou sabendo e desceu e encampou o partido. Estava vereador independente, mas não tinha intenção de sair do partido. Fui falar com o prefeito e cobrei uma promessa de campanha. Ele disse que primeiro eu deveria anunciar publicamente, da tribunha, que ficava no partido para ele atender. Então eu sai de vez do PMDB e fui para o PTB.

Jorge – Quando entrei para vida pública, entrei para o PTB. Culpa do Zé, do Nicota, do Beto e tantos outros companheiros.

A política te trouxe mais alegrias ou tristezas?

Zé – Tu entra na política pelo braço dos amigos e depois parece que tu não podes sair por causa dos inimigos.

Jorge – Alegrias. Sempre fui vitorioso na política, mesmo quando eu fui derrotado. Fazer 377 votos na situação em que foi aquela eleição foi uma vitória. Naqueles dias fiquei triste, pelo Beto, pelo Jonas. Nós fomos vitoriosos porque os partidos adversários nos usaram, cada um da sua forma.

– Isso faz parte do processo político.

Quem são os amigos e quem são os inimigos?

– Respondam vocês. Senti logo, quando fui para a Prefeitura em 1988 que uma parcela das pessoas que conhecia me interpretavam diferente. É isso que precisa mudar, porque tem gente de bem em todos os partidos. Fui vereador de 1989 a 1992.  Na sequência o Jonas (sobrinho e filho do Jorge) concorreu e se elegeu. Eu permaneci no Governo e fui demitido dois anos depois porque o Jonas foi eleito presidente da Câmara de Vereadores com apoio de partidos da oposição. Era uma época muito difícil, estava estudando e não tinha outras atividades.

Nesse meio tempo coloquei uma cachaçaria e passei no concurso para leiloeiro oficial do RS, aprovado pela Junta Comercial de Porto Alegre. Não consegui juntar o dinheiro para a caução (R$ 45 mil) exigida para iniciar a atividade. Me formei em Direito, passei na prova da OAB na primeira tentativa e comecei a advogar. Estávamos indo para Relvado comer um cabrito eu, o Jorge e o Beto (Roberto Turatti), falando de política.  No banco de traz, meio enjoado, fui só ouvindo a conversa. Até que me manifestei. ‘Será que eu vou ter que concorrer para ganhar essa eleição? Que pretensão!’ Eles ficaram em silêncio. Dias depois fui ser o vice do Paulo na eleição de 2008.

E a eleição do Jonas para deputado?

Jorge – Em 2006 ele foi candidato a deputado, chamado a colaborar com o partido. Diante de todas as circunstâncias ele foi bem. Ainda hoje carrego uma mágoa de um candidato adversário que falou mal do meu filho.

Vocês tem um desafeto com o Irno Pretto?

– Numa eleição apareceu na frente da casa dele um cartaz com a frase: “Traidor”. Ele tinha uma desavença com o Neri Sucolotti, e como éramos do PTB ele achou  que fôssemos nós. Eu estava no Rio de Janeiro e não poderia ter feito aquilo. Se houve algo no passado agora não existe mais.

A família sempre os apoiou?

Jorge – O pai e a mãe não gostavam muito que nos envolvêssemos, acho que eles não queriam que nós sofrêssemos, que falassem mal da gente. Os irmãos sempre foram nossos parceiros, assim como nossas famílias.

– São os que mais cobram. ‘Vão arrumar as estradas,’ seu vice. Temos que mudar, todas as administrações tem que se nortear por aquilo que é público. Temos feito muitas coisas que não são da nossa competência.

O que a política trouxe de bom para vocês?

– Através da política tu podes ajudar muito as pessoas. Se o trabalho for bem realizado, tu conquista muitas obras e ações que beneficiam a comunidade.

Jorge – De certa forma me abriu os horizontes. Trocar de ideias, interagir, enfrentar problemas em grande grupo, discutir questões partidárias, dos municípios, dos colegas.

E de ruim? 

Zé – Como a cidade é média, o pessoal não quer saber se está certo ou errado. Eles olham o lado  que você está. Tu constroi uma escola e dependendo o lado, vão falar de uma fechadura. As ‘ronhas políticas’ é o que tem de pior.

Jorge – Quando não somos compreendidos. (Ele é presidente do PTB de Encantado)

Qual a maior alegria na política?

– As vitórias. Me sinto bem na política, gosto de falar, atender as pessoas. Mesmo nas horas de lazer não me importo de falar e ouvi-las.  Pelo calendário de 2014, de fevereiro a dezembro tínhamos 146 eventos e para mim é um prazer. De outro lado as pessoam precisam entender que o político também tem família. É um costume que as autoridades estejam presentes em todos os eventos.

E a maior tristeza?

– As vezes tu ouve a demanda das pessoas, da comunidade e é impossível resolver tudo. A pessoa te leva um problema que para ela é o maior, independente do que seja. A gente absorve, tenta resolver, acaba sentindo que aquela questão também é nossa e se não puder resolver fica a frustração.

O que os motiva a se manterem na política?

– Quando nós ganhamos a primeira eleição eu e o Paulo, quase ninguém acreditava, mas eu tinha um bom pressentimento. A supresa foi tanta que o senador Pedro Simon perguntou na primeira visita do prefeito Paulo Costi a Brasília “como é que tu ganhou do Baixinho”? Todos os prefeitos querem fazer o melhor. A gente não pode dizer que esse ou aquele não fez nada. Tem algumas decisões que estão acima da vontade do prefeito.

Ser prefeito de Encantado está entre os objetivos?

– Eu poderia ter concorrido na eleição anterior. Não, não é objetivo. Eleição é uma questão de momento. Hoje a decisão é de deixar a política um pouco de lado e abrir espaço para os mais jovens. Não quero atropelar ninguém. Se o grupo entender que deva ser outro vou entender e se acharem que tenha que ser eu farei uma avaliação muito criteriosa. Com a experiência que acumulei durante tantos anos, teria que impor o meu jeito de administrar

Qual é o teu jeito?

  – Sou mais afoito. Ia me dar problema.

Qual o maior problema político de Encantado?

– As eleições não terminam nunca. Elas deveriam começar sempre a seu tempo.

Onde é que Encantado está errando e onde está acertando?

– Eu acho que a nossa administração está bem. Tem uma preocupação muito grande com as questões que dizem respeito ao cidadão: saúde, habitação, temos um sistema educacional muito bom, com índices excelentes. Os dados do IBGE mostram que estamos crescendo em tudo. Temos que nos orgulhar de morar aqui. Quem vem de fora sempre elogia a cidade, as pessoas, a fácil convivência.

Temos alguns detalhes que precisariam ser melhorados, como um banho de tinta, por exemplo. Precisamos cobrar dos munícipes aquilo que é responsabilidade do cidadão. Tem ações que a população precisa assumir, como manter as calçadas e a frente das casas. Isso é o que gostaríamos que cada um fizesse e tudo ficaria muito melhor, porque a Prefeitura não tem condições de resolver tudo.

O que Encantado tem de melhor?

– As pessoas. Dialogamos muito com as entidades, empresas, comunidades. Ouvimos todo mundo em qualquer dia e hora. Por isso estou lá, para ajudar o Paulo a fazer esse trabalho.

Como é ver os filhos seguindo no Direito?

Jorge – É uma satisfação muito grande. Nunca pedi para eles seguirem no Direito, eles tiveram autonomia para escolher. O Francis sempre disse que iria cursar História, depois Direito. Hoje trabalha com informática e está se formando em História e fazendo estágio no Scalabrini.

Ele vai fazer Direito depois?

Jorge– Não sei, só sei que ele vai fazer uma viagem para o Egito em janeiro. Ele sempre disse que quando se formasse em História – e eu dizia deixa de história – eu iria pagar essa viagem. E esse dia chegou.

Eleição custa caro?

– Manter uma estrutura custa muito.

Jorge – Até no PTB  tem muitas despesas.

Em quem votaram nas últimas eleições?

Jorge – Eu segui o conselho do partido, que a nível federal estava com Aécio e com o Tarso no Estado.

– Eu também, segui o partido.

E como  entender essa salada de frutas?

– Muito misturada. É difícil tirar uma fruta, duas sem levar o gosto ou aroma de outras. Não vai mudar até que não houver reforma política.

Qual é a receita para mudar a situação do País?

– Não existe país no mundo que tenha se desenvolvido sem trabalhar. Esse deve ser o foco. Países que passaram por uma, duas guerras se reergueram e são exemplo de que o trabalho é a saída.

A política os impediu de desenvolver a característica de empreendedor?

Jorge – A política é um empreendimento.

– Para mim sim, porque fiquei mais na política e toma muito tempo e energia. As vezes é difícil conciliar os negócios pessoais com a dedicação a política.

Do que é que vocês tem medo?

– Do mal amém.

Jorge – Tenho medo de dentista. Em 1978 trabalhava na Cosuel e estava com um dente inflamado e fui para Xarqueada (Putinga). Tinha um dentista anexo ao prédio da Cooperativa que usava a broca de pedalar. Colocou a broca no dente e como a velocidade era baixa, o dente grande, ela ficou trancada. Ele me levou para Putinga, no consultório de um colega, onde tinha a broca elétrica. Ele engatou esse aparelho na broca que estava presa no dente, ligou e deu um estouro enorme. Vi estrelas  de todos os tipos e cores, era uma constelação. Dava para colocar um ovo no lugar do dente.

– Isso que os nossos pais, que sempre foram humildes, se preocuparam em cuidar dos nossos dentes.

Como tu encara o dentista agora?

Jorge  – Eu sabia que tinha uma hérnia e combinei com o dentista para tratar os dentes enquanto estivesse anestesiado. Um sábado pela manhã fui fazer a cirurgia. O dentista tratou todos os dentes a não ser justamente aquele que estava infeccionado, o da broca, que tive que encarar depois.

Marquei para ir ao dentista, tomei meio garrafão de cachaça, cheguei lá dizendo muita besteira. Meta…. enquanto estou bêbado. Só assim para encarar aquela maquininha.

No que vocês são mais diferentes?

Jorge – Nós somos muito parecidos.

– O Jorge foi pescar no final de semana. Ele tem o escritório, as empresas e consegue fazer os programas de lazer. Eu com os compromissos públicos fico mais preso.

Como foram parar no Seminário?

– Em 1970 fomos para o Seminário em Nova Bassano para estudar. Foi uma época de muito aprendizado, hoje entendo que poderíamos ter aproveitado muito mais, mas também de muitas peripécias.

Jorge Calvi - José Calvi - Capa - Revista Visual
Reprodução: Dezembro 2014 | Revista Visual

Pela cara aprontaram

Zé – Em Nova Bassano, nosso primeiro Seminário, cada semana um seminarista ficava fazendo o serviço de porteiro e na semana da páscoa era a do Jorge. Foi quando uma paquera que eu tinha bateu na porta e toda envergonhada, não olhou direito e  entregou um pacote. ‘É prá ti Zé.’ Depois de comer quase todo o meu coelho, ficou só uma orelha, ele me deu a notícia.

Jorge – Ela deu para mim. Ela disse é para ti Zé, eu peguei

Jorge Calvi - José Calvi - gargalhadas - Revista Visual
Os irmão José e Jorge. Muitas histórias para contar.

Vocês já aproveitaram essa semelhança também para fazer campanha?

– Na primeira eleição para vereador o Jorge ficou com a área da Santa Clara até as Palmas para visitar as famílias. Ele prometeu tudo e mais um pouco e de vez em quando aparecia alguém, que muitas vezes nunca tinha visto, cobrando as promessas. Ele me colocou em cada ‘saia justa’ que me dá vergonha até hoje.

Jorge – Uma noite tinha dois comícios, o Zé foi para o Lambari e eu para as Palmas. Sentei na mesa dos candidatos e quando chegou a minha vez de falar disse que não queria. O encontro nas Palmas terminou antes e o pessoal de lá foi até o Lambari, como era moda.

Zé – Eles me xingaram porque eu estava discursando e coordenando o comício no Lambari e não tinha falado nada nas Palmas. Aguentei no osso e a só agora eles vão saber que o Jorge estava lá no meu lugar.

É verdade que o Jorge perdeu um ano de colégio devido a semelhança?!

– É. Eu tinha rodado no primeiro ano. No primeiro dia de aula do segundo ano estávamos brincando no pátio, a professora apontou para mim e disse: Jorge, vai para aquela fila e eu, muito obediente, fui para a fila do segundo ano. Dois, três  meses depois o Jorge se queixou em casa.  ‘Mãe é tudo igual ao ano passado!’ E ela ‘vou saber eu.’

Jorge – Ele estava aprendendo a escrever com ‘letra pegada’ e eu repetindo tudo do ano anterior. O tempo foi passando e quando entenderam o que tinha acontecido a professora (Ciria Vargas) disse que já faziam quatro meses e que iria ficar assim. O Zé me deve essa.

– Devo nada, no terceiro ano rodei de novo e tu me alcançou.

Jorge – No seminário nós pegamos duas recuperações em duas matérias diferentes. Coincidentemente um estava melhor que outro numa matéria. Quem estava melhor foi fazer a prova para o outro, mas isso custou o meu dente.

O Zé estudava numa sala e eu na outra. Ele perdeu um dente de leite – e como estávamos sempre rindo – começaram a nos diferenciar. O Zé era o sem dente.  Ele começou a dizer que agora eles sabiam quem era um e quem era outro, que não podia ficar assim. Me senti culpado. E numa noite, sem contar para ninguém, tanto fiz que arranquei o dente. No dia seguinte, todo inchado, fui contar para o Zé que eu também não tinha o dente. Combinamos que nós iríamos enganar o Pe Pio, o Reitor do Seminário. Sai primeiro, e o Padre Pio disse:

– Bom-dia Zé.

– Não sou o Zé. Sou o Jorge.

– Não tu é sem dente. Tu é o Zé, sem dente.

– Jogo 10 cruzeiros que eu sou o Jorge. Ai o Zé apareceu e o reitor estava nos devendo o dinheiro. Fizemos um acordo com o  Padre Pio e quem pagou a conta foi o vigário que entrou na mesma armadilha. Foi ai que nós descobrimos que tínhamos vocação para advogado e político. (Gargalhadas).

– Com aquele dinheiro compramos um chinelo de dedo cada um, duas escovas de dentes e uma pasta.

Jorge – A única diferença na roupa do seminário era o número – J (203) Z (107) que a mãe bordava nas nossas roupas: uma camisa de volta ao mundo muito linda.

– Falando em pasta de dente me lembrei que nós pegávamos o creme de barbear dos colegas e juntávamos  com a pasta de dente e passávamos de um tubo para o outro. Quando ele iam escovar os dentes… Salve-se quem puder…

Jorge – Depois do episódio do dente ficamos iguais novamente e tínhamos que fazer o exame. A preocupação era que o Zé é canhoto, mas tomamos todo o cuidado, além do que nós éramos os queridinhos, mas isso não bastou porque a secretária contou que trocamos as provas. O Padre Biolchi ficou furioso, pulou por cima do balcão, correu atrás, queria nos pegar. Foi um corre, corre danado…  mas ele não conseguiu nos pegar…

– Na verdade tu tirou o dente para podermos fazer as provas trocadas, não foi?

Jorge – O pai teve que vender a junta de bois para ajeitar o estrago.

Quem tinha mais vocação?

Jorge – Um dia me chamaram para conversar e disseram que eu não tinha vocação porque não visitava o padre espiritual. Todos os seminaristas uma vez por semana conversavam com esse padre. Quando nós chegávamos pegavam sempre a ficha do Zé. Estava tudo na ficha daquele ali e diziam que eu não tinha vocação.

Todos os anos nas férias pequenas (de inverno) o Zé queria vir embora e nas grandes sempre queria voltar. No final do terceiro ano o Pe Emir Filter e o Nelson Majolo passaram no seminário em Guaporé para nos buscar.

– Acho que no ano que vem não venho mais.

– Então não volta, disse o Zé. Eu sempre dei força para o Zé ficar no Seminário e na primeira oportunidade ele me mandou ficar em casa.

– Conta a verdade, naquele verão tu conheceu a Leci, lá no campo do Lambari. Quer que eu continue?

Jorge – Na metade do ano seguinte o Zé voltou também.

– É que o Padre me aconselhou a ficar seis meses em casa para fortificar a vocação.

Consta que até para o Padre Aroldo vocês aprontaram…

Jorge – Aprontar não. O Padre Aroldo cheirava rapé e carregava um lenço de cetim de 2m x 2m. No começo ele colocava no bolso dobradinho, mas depois de alguns dias virava uma bola. Ele estava rezando missa no Seminário, espirrou, tirou aquela ‘maçaroca’ do bolso e quando foi colocar de volta ela rolou e ficou a vista. Os padres, no altar, começaram a apontar e eu tentei jogar a bola com a ponta do pé para debaixo da mesa, mas ela rolou para o lado do Zé. Comecei a me torcer todo para o Zé perceber que  a bola estava do lado dele, mas aí todos já estavam rindo ao perceber a situação. Até hoje não sei se ele não viu ou não quis ver para colocar o Padre Aroldo naquela situação.

Jorge – No seminário ninguém queria lavar a louça, mas nós sim. Descobrimos um jeito de roubar pão, queijo e salame que comíamos junto com alguns colegas deitados numa varanda, até que de noite fomos descobertos. Os padres estavam em reunião na sala ao lado e nos ouviram cochichar: ‘passa o pão, passa o salame’ e os produtos que jogávamos, de um para o outro não vinham. Eles tinham confiscado enquanto voavam de um para o outro.

Jorge – Daquela vez quem tinha pego o queijo era o Feraboli. Na missa seguinte, no sermão o padre começou a fazer pressão psicológica. ‘Eu sei quem pegou o queijo. Ele está aqui. Eu estou vendo.’ E continuou naquela história por mais de uma hora. A pressão foi tanta que o Feraboli, que era gago, admitiu: ‘fuuuiiii  eeeeeuuuuu.’

Entrevista veiculada na Edição 46 da Revista Visual | Ano 32 | Dezembro de 2019

Capa - Revista Visual - Jornal Força do Vale - Edição 44 - Dezembro 2014
Capa da Revista Visual | Jornal Força do Vale Edição 44 | Ano 27 | Dezembro 2014

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